Acho, na internet, as Cartas da Inglaterra, de Eça de Queiroz. Eça trabalhou na diplomacia portuguesa em Londres e em Paris.
Me fixo numa carta. Ela ajuda a entender por que os povos do Oriente Médio abominam as potências ocidentais, principalmente Estados Unidos e Inglaterra.
É uma longa e sangrenta relação, em que um é pisado e os outros pisam.
“Em 1848 os ingleses, «por uma razão de Estado, uma necessidade de fronteiras cientificas, a segurança do imperio, uma barreira ao dominio russo da Ásia…» e outras coisas vagas —invadem o Afeganistão, e aí vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, tão logo os correspondentes dos jornais telegrafam a vitória, o exército, acampado à beira dos arroios e nos vergeis de Cabul, fuma o cachimbo da paz.
(…)
A Inglaterra goza por algum tempo a «grande vitória do Afeganistão»—com a certeza de ter de recomeçar daqui a dez anos ou quinze anos; porque nem pode conquistar e anexar um vasto reino, que é grande como a França, nem pode consentir, colados à sua ilharga, uns poucos de milhões de homens fanáticos, batalhadores e hostis. A «politica», portanto, é debilitá-los periodicamente, com uma invasão arruinadora. São as fortes necessidades dum grande imperio. Antes possuir apenas um quintalejo, com uma vaca para o leite e dois pés de alface para as merendas de verão…