Podemos estar diante de um 2013 silencioso. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 2 de novembro de 2024 às 7:21
Manifestações em Porto Alegre: 34,83% do eleitorado não compareceu às urnas no segundo turno das eleições. Foto: Divulgação

A abstenção média nas eleições municipais, considerando os dois turnos, foi de 30% em todo o país. Em Porto Alegre, 34,83% do eleitorado não compareceu às urnas no segundo turno – percentual típico de países onde o voto não é obrigatório. Em uma cidade castigada por uma catástrofe ambiental, um terço dos eleitores não viu razão para escolher seus representantes, sinalizando não apenas desencanto, mas também a disfuncionalidade da política institucional.

Cada um deve se virar por conta própria, pois ninguém resolverá coisa alguma. A democracia, como dizia Sérgio Buarque de Holanda, torna-se meramente ornamental para milhões. Trata-se de algo muito grave.

Governistas e ilusionistas de plantão minimizam o problema: “O PIB cresce, o emprego aumenta, e a renda se expande”. Sim, exatamente como no primeiro trimestre de 2013. Dois meses depois, o Brasil explodiria em ruidosos protestos. Até hoje não formulamos explicações convincentes para aqueles eventos.

“Tout va très bien, madame la marquise”, dizia a cançoneta francesa: tudo ia muito bem até a erupção popular. Bolsas disso e daquilo e empregos precários aliviam, mas não resolvem problemas seculares, por mais que líderes carismáticos façam promessas e juras de ajustes que salvariam a todos.

Os indicadores objetivos possivelmente não captam um mal-estar oculto ou frustrações subjetivas, prontas para explodir ao menor sinal de faísca.

O desencanto com a política, revelado pelas urnas, não aparece em gráficos ou tabelas, mas ele existe e se manifesta de forma crescente a cada eleição. O que significa e o que pode acarretar tamanho desinteresse?

É essencial refletir sobre essa questão. Podemos estar diante de um novo junho de 2013, silencioso e adormecido, mas potencialmente grandioso e perigoso. O governo federal, assim como as administrações estaduais e municipais, deveriam tomar muito cuidado com os fósforos.

Originalmente publicado nas redes sociais do Gilberto Maringoni

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