Após uma década de crescimento e fortalecimento, grupos milicianos dominam e exploram diversas regiões em dezenas de bairros do Rio de Janeiro. Eles não apenas exercem controle sobre territórios, mas também subjugam milhões de cidadãos fluminenses, lutam por novos domínios com um arsenal militar e infiltram-se nas instituições. As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo.
Uma das fontes de renda desses milicianos envolve a cobrança de taxas dos residentes e pequenos comerciantes em áreas sob seu controle. Os valores, geralmente baixos, variam de acordo com a região e abrangem uma ampla variedade de negócios, incluindo depósitos de bebidas, lojas de conveniência, bares e microempreendedores.
Por outro lado, os grupos milicianos também ameaçam e extorquem grandes empresas, como construtoras e varejistas, que só podem operar em áreas controladas por esses criminosos após pagar uma espécie de “pedágio”.
Esses paramilitares utilizam diversos empreendimentos comerciais, como lojas, postos de gasolina, imobiliárias e supermercados, para lavar o dinheiro obtido de atividades ilegais, como Gatonet, extração ilegal de areia e saibro, furto de energia e exploração do transporte alternativo.
Hoje, os três criminosos mais procurados no Rio de Janeiro após os ataques com dezenas de ônibus incendiados, realizados na última segunda-feira (23), são Luis Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho; Danilo Dias Lima, apelidado de Tandera; e Wilton Carlos Rabello Quintanilha, também chamado de Abelha.
Os ataques são em represália à morte do sobrinho do chefe da milícia Zinho, Matheus da Silva Rezende, conhecido como Teteu e Faustão. Pelo menos 35 ônibus foram queimados na Zona Oeste do Rio.
Outro exemplo desse cenário obscuro de fontes de renda é uma clínica de podologia localizada em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Oficialmente, é uma empresa de gestão de imóveis, mas na realidade, suas finanças servem para irrigar os cofres da milícia.
O dono da empresa, André Felipe Mendes, movimentou mais de R$ 1,5 milhão entre 2017 e 2021, apesar de ter uma renda declarada de apenas R$ 12 mil. Ele é réu em um processo judicial relacionado a essas atividades criminosas.
Além disso, os milicianos estão envolvidos em uma variedade de atividades ilícitas, incluindo a venda irregular de medicamentos controlados por meio de farmácias irregulares. Eles também se aventuram na lavagem de dinheiro com criptomoedas e controlam setores como extração de saibro e areia, distribuição de gás e até mesmo a criação de cavalos Mangalarga Marchador.
Até a última quarta-feira (25), o serviço Disque Denúncia recebeu 1.984 relatos de extorsões a comerciantes realizadas por milicianos este ano. A capital lidera com 1.198 registros, seguida por São João de Meriti (227) e Nova Iguaçu (199). No Rio, os bairros com mais denúncias são Santa Cruz (150), Jacarepaguá (136) e Campo Grande (130).
Aqueles que se recusam a pagar, segundo relatório do Disque Denúncia, “são ameaçados de morte, correm o risco de perder o seu estabelecimento, além de ter a sua mercadoria roubada”. A imposição das taxas é feita por milicianos armados com pistolas e fuzis.