Um lugar comum disseminado nas análises sobre a situação brasileira é o de que o país estaria polarizado e este seria um problema a ser enfrentado. A saída para a despolarização estaria no fortalecimento de um incerto “centro” político, que abandonaria os extremos e recolocaria o país nos trilhos. Não é difícil ver quem a mídia aponta como solução “de centro”.
É uma tese tão certinha e tão redondinha que tem toda a pinta de ser furada.
Não há polarização política alguma. O que há é o fato de um setor extremo da direita ter ganho legitimidade popular para radicalizar um projeto ultraliberal de país. Para sua materialização acontecer é essencial quebrar resistências de todo tipo. Isso só se faz rompendo com as regras democráticas da Constituição de 1988.
Não há polarização quando essa extrema-direita convoca um golpe e líderes da esquerda seguem com suas agendas ególatras e saudosistas ou ficam na pasmaceira do nem-nem. Há exceções. Sorte que o golpe se desmancha por contradições entre a própria direita.
Não há polarização quando essa extrema direita avança no desmonte do país e do outro lado há vacilações na defesa do Estado, do desenvolvimento e do mundo do trabalho.
Evidentemente que tais ataques suscitam resistências e mobilizações de variados setores sociais. Mas ainda não conseguimos criar um polo consistente de enfrentamento ao esculacho ultraliberal.
Construir um projeto a partir das demandas concretas das pessoas – emprego, salário, comida, serviços públicos de qualidade e perspectiva de futuro – é tarefa mais que imediata. Penso que este movimento já começou, mas falta muito para seu amadurecimento.
O objetivo maior deve ser quebrar a falsa ideia de que nosso problema é a polarização. Polarizar com o bolsonarismo deve ser a meta das oposições. É o passo inicial para derrotá-lo.
Polarizar é bom e não é pecado.