Publicado originalmente no blog do autor
POR MOISÉS MENDES
Legisladores e governantes brasileiros nunca tiveram a coragem dos vereadores de Minneapolis, que decidiram definir um novo formato para a estrutura e o caráter da polícia local, depois do assassinato de George Floyd.
A primeira coisa que farão, e que anunciam com alarde, é desmantelar a estrutura atual. Não vão reformar, nem consertar, nem desmontar. Vão desmantelar, triturar, pulverizar.
No Brasil, já debateram mil vezes como mudar a estrutura policial que criou forças violentas com poder paralelo nos Estados. Já se propôs até a extinção das polícias militares, as que mais matam e de onde saem os milicianos.
Já tentaram impor limites ao poder e aos métodos de repressão das PMs em manifestações de rua. Nunca conseguiram avançar, porque também as esquerdas se acordaram diante do debate.
Nos Estados Unidos, além de Minneapolis, outras cidades decidiram atacar a vocação fascista das polícias (como são as forças ostensivas da maioria dos países), para que não continuem matando pobres e negros.
Mas lá as polícias não assumiram as feições que têm no Brasil. Polícias fardadas são aqui parte da base política da direita na guerra contra os pobres há muito tempo e agora dão lastro ‘ideológico’ ao bolsonarismo.
Se não mexeram com essas estruturas em governos progressistas, quem irá se meter a mudar agora, com o poder central e os Estados tomados pela direita e pela extrema direita? Deixar como está é o que importa.
As estatísticas mais recentes gravaram um número na mente dos brasileiros. Desde o início da pandemia, a polícia do Rio mata seis pessoas por dia. Seis pobres. Geralmente, seis jovens negros.
O antropólogo e professor Piero Leirner, da Universidade Federal de São Carlos, pesquisador do comportamento dos militares das Forças Armadas, acredita que os fardados de Exército, Marinha e Aeronáutica podem em algum momento fazer com que seus planos sejam convergentes com os das polícias militares.
Simplificando o que Leirner disse em entrevista à BBC Brasil, o plano maior pode ser, em nome da paz e da ordem, o estabelecimento do poder absoluto dos militares, sob as ordens de Bolsonaro ou de quem arredar Bolsonaro e exercer essa autoridade à força.
Antecipo que estou, apenas por intuição, entre os que não acreditam na viabilização de um plano tão maluco e complexo em que as Forças Armadas possam compartilhar, mais do que os mesmos interesses por uma ditadura, hierarquias e estratégias de poder com polícias militares.
Então, que chamem logo os milicianos e estes passem a comandar os generais.