Por Leonardo Sakamoto
Arthur Torres Rodrigues Navarro, de 33 anos, que matou o entregador de aplicativo Hudson de Oliveira Ferreira após atingi-lo com o seu Porsche Cayenne de R$ 1,2 milhão, em alta velocidade, e fugir sem prestar socorro, em Campo Grande (MS), apresentou-se à Polícia Civil nesta sexta (5). Em depoimento, disse que não percebeu a colisão. Ficará livre durante o inquérito. Seu carro foi apreendido.
A batida ocorreu no dia 22 de março e Hudson agonizou no hospital por dois dias. Na certidão de óbito ao qual a coluna teve acesso, as causas da morte foram politraumatismo por ação contundente devido à colisão automobilística e embolia pulmonar.
Sete dias após a morte de Hudson foi a vez de Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, também trabalhador de aplicativo, mas motorista. Seu Renault Sandero foi destruído pelo Porsche 911 Carrera de R$ 1,3 milhão de Fernando Sastre de Andrade, de 24 anos, no domingo (31). A causa da morte também foram fraturas múltiplas. Tanto o carro de luxo de Arthur quanto o de Fernando pertencem ao seus pais.
Arthur foi indiciado por homicídio culposo. Há dez anos, ele atingiu outro motociclista, deixando sequelas. Ele foi encontrado pela polícia após a repercussão do caso – dois motoristas ricos de Porsches matando dois trabalhadores pobres de aplicativos em um espaço curto de tempo chama a atenção mesmo no Brasil. Câmeras de segurança ajudaram na identificaçao do motorista e do carro, que estava escondido.
Em São Paulo, Andrade também evadiu-se do local, mas de outra forma. Dois policiais que atenderam à ocorrência permitiram que sua mãe o levasse embora para tratar de um ferimento na boca. Só depois, PMs foram ao hospital para fazer o teste do bafômetro e foram informados de que ele nunca deu entrada no local informado. Tampouco atendeu aos telefonemas, muito menos respondeu à campainha de casa.
Sua mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrada, afirma que ele estava em choque e com dores e acabou não sendo levado para o hospital. Ambos teriam dormido sob efeito de medicamentos na residência de Fernando. Ele se apresentou à polícia mais de 38 horas depois, quando o exame do bafômetro não seria mais eficaz. O delegado do caso o indiciou por homicídio doloso, com intenção de matar, e pediu sua prisão, mas a Justiça a negou.
Os dois casos provam que deixar Porsches soltos por aí sem motoristas ao volante é algo perigoso. Eles matam. Ainda bem que o de Campo Grande foi apreendido.
Publicado originalmente no UOL