Políticos bolsonaristas pagaram para impulsionar fake news sobre exploração infantil no Marajó (PA)

Atualizado em 2 de março de 2024 às 10:15
População ribeirinha na Ilha de Marajó — Foto: reprodução

Políticos bolsonaristas estão sendo apontados por patrocinar postagens que disseminam denúncias falsas sobre um suposto esquema de exploração infantil no Arquipélago do Marajó (PA). O assunto ganhou destaque nas redes sociais após a cantora Aymeê Rocha denunciar abusos contra crianças na região durante um reality show gospel, em 15 de fevereiro.

Famosos e influenciadores aderiram à propagação do vídeo da apresentação, compartilhando também conteúdos descontextualizados que contribuem para a desinformação sobre a região. “Ilha de Marajó” se tornou o tema mais pesquisado no Google no Brasil em 21 de fevereiro.

De acordo com informações da Agência Pública, a partir de 24 de fevereiro, políticos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) financiaram postagens nas plataformas Instagram e Facebook para amplificar as denúncias.

Ao menos seis políticos investiram até R$ 100 para impulsionar esses conteúdos, incluindo os deputados federais Luciano Galego (PL), do Maranhão, e Maurício Neves (PP), de São Paulo, o deputado estadual do Pará e ex-superintendente regional do Incra Coronel Neil (PL), a vereadora de Navegantes (SC) Lú Bittencourt (PL), e os vereadores de São Paulo Reinaldo Digilio (PRB) e Lucas Ferreira (sem partido).

A postagem que mais teve impressões foi a do Coronel Neil (PL). A propaganda circulou de 24 a 26 de fevereiro, rendendo aproximadamente 10 mil impressões. Segundo uma pesquisa conduzida pelo NetLab/UFRJ, o deputado estadual também impulsionou anúncios para convocar caravanas para um evento pró-Bolsonaro na avenida Paulista, ocorrido no último domingo (25).

Na publicação relacionada ao Marajó, o Coronel Neil aproveitou a apresentação da cantora gospel para ressaltar sua atuação na região. O vídeo inclui diversas fotos dele ao lado da senadora e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.

Publicação sobre o Marajó impulsionada pelo Coronel Neil
Publicação sobre o Marajó impulsionada pelo Coronel Neil. Foto: Reprodução/Facebook

A vereadora Lú Bittencourt, por exemplo, obteve cerca de 8 mil impressões em seu post patrocinado que reproduzia o vídeo da denúncia de Aymeê Rocha. A postagem, direcionada a moradores de Santa Catarina, começou a circular em 26 de fevereiro, e ela continuou compartilhando informações sobre as supostas denúncias de exploração infantil no Marajó em postagens subsequentes.

Publicação patrocinada da Vereadora Lú Bittencourt atingiu aproximadamente 8 mil impressões
Publicação patrocinada da Vereadora Lú Bittencourt atingiu aproximadamente 8 mil impressões. Foto: Reprodução/Facebook

As postagens semelhantes patrocinadas pelo vereador Lucas Ferreira buscaram apoio para o Instituto Akachi, que ganhou destaque ao liderar uma campanha de arrecadação de doações para combater a exploração infantil no Marajó. Esses conteúdos, que alcançaram aproximadamente 10 mil impressões, começaram a circular em 23 de fevereiro.

O Instituto Akachi, embora declare trabalhar com crianças vítimas de violência, não esclarece em suas divulgações que pertence a uma corrente evangélica, tendo um dos donos como pastor e ex-candidato bolsonarista, Henrique Krigner.

Ele é um dos sócios do Akachi e diretor de uma ONG sediada em Pariquera-Açu, São Paulo, sendo uma figura proeminente na igreja evangélica Zion Church e no Dunamis Movement, que promove atividades voltadas a disseminar a fé, principalmente entre jovens.

Um dos representantes da Zion, o pastor Lucas Hayashi, já publicou um vídeo, em 2019, sobrevoando o Marajó supostamente a convite de Damares.

“Representando a sociedade civil por meio da Zion Church e do Dunamis Movement, fomos até a Ilha do Marajó, lá no Pará, com o objetivo de analisar as demandas da saúde, educação e assim contribuir com o Governo Federal, juntamente com o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos e a ministra Damares Alves, e com o programa Abrace Marajó”, disse.

Vale destacar que Damares já esteve sob investigação do Ministério Público Federal (MPF) por disseminação de fake news contra a população do Marajó. No ano de 2022, a ex-ministra fez novas denúncias, sem apresentar provas, relacionadas a abusos sexuais e tortura de crianças no arquipélago.

Atualmente, ela enfrenta uma ação movida pelo MPF em 2022, que busca o pagamento de R$ 5 milhões devido aos relatos não comprovados de abuso infantil.

Essas declarações voltaram a circular na internet neste mês, acompanhadas de outros conteúdos falsos, como um vídeo que mostra supostas vítimas de tráfico de crianças no Marajó em um carro. Importante destacar que esse vídeo foi, na verdade, gravado no Uzbequistão. Outro conteúdo, que exibe um homem beijando uma criança em um barco, foi registrado no Mato Grosso do Sul.

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