Políticos devem receber salários?

Atualizado em 5 de abril de 2013 às 4:51

É uma questão mais complexa do que pode parecer.

Mill era contra salário na política

Políticos devem receber salários?

Esta é uma pergunta que foi intensamente debatida na Inglaterra desde que o Parlamento virou relevante, depois da execução no século 17 de Carlos I, o último rei absolutista.

Faz 102 anos, em 2011, que os britânicos decidiram pela remuneração de seus parlamentares. Era, teoricamente, uma maneira de abrir o Parlamento a pessoas fora das classes privilegiadas.

Foi uma decisão complexa.

O grande filófoso liberal John Stuart Mill, na segunda metade do século 18, condenou a remuneração dos políticos. A política, segundo ele, se tornaria uma profissão como as outras, em que o olhar recai “principalmente sobre as questões pecuniárias, e sob as influências desmoralizadoras de uma ocupação essencialmente precária”.  Um político da época de Mill afirmou o receio de que o salário destruiria o ideal do “serviço público gratuito”.

Foi o primeiro ministro liberal David lloyd George quem comandou a mudança. “Não é uma remuneração, não é uma recompensa, não é nem mesmo um salário”, afirmou ele. “É apenas uma ajuda de custo”.

Compensou, vistas as coisas 100 anos depois?

O historiador Dominic Sandbrook discutiu isso num artigo na  revista History, da BBC.

A resposta dele é não.

Remunerar os políticos, diz ele, se revelou um “fracasso profundo”.

A política continuou basicamente a ser exercida por uma casta privilegiada, oriunda das faculdades de Cambridge e Oxford, redutos da elite inglesa.

Havia um componente emocional nos argumentos de Sandbrook. Os ingleses se recompõem ainda do “Escândalo das Despesas”.  Uma investigação sobre os gastos dos parlamentares revelou coisas bizarras. Um deles se ressarciu da construção de uma casa para patos. Outro da afinação de um piano. Um chegou a receber de volta o dinheiro que dera de espórtula numa missa. Para não falar de uma política que inadvertidamente colocou na conta do contribuinte o dinheiro que o marido gastara com o aluguel de fitas pornográficas.

Como seria esta discussão no Brasil?

Ao contrário do caso inglês, os salários abriram a política a gente sem fortuna. Lula é um exemplo. O próprio Fernando Henrique, professor, é outro.

Fracasso na Inglaterra, sucesso no Brasil.

E o ideal do serviço público gratuito?

Bem, não há sinais de que ele tenha existido um dia no Brasil, a terra dos Malufs, ACMs, Sarneys, Quércias e outros plutocratas da política nos quais é (ou era) difícil enxergar vestígios de idealismo.