Eis o grande problema da geração das redes sociais: qualquer pessoa acha que pode opinar sobre absolutamente qualquer coisa.
Luíz Felipe Pondé, por exemplo – “filósofo” direitista, “pensador” reacionário e rei das gafes na internet – resolveu, recentemente, usar a sua conta no Twitter para falar sobre feminismo. É um tema que não domina, não vivencia e sobre o qual – aposto – não leu uma linha sequer.
Acaso fosse mais bem informado, evitaria a vergonha alheia que seus últimos tweets têm causado. A impressão que se tem – a julgar pela febre vertiginosa de postagens aleatórias sobre o tema – é de que Pondé foi enxotado por alguma feminista e resolveu, pateticamente e sem nenhum embasamento, pôr a culpa no feminismo.
A última pérola do “filósofo” é de doer os olhos: “Uma coisa é combater crime sexual, salário discriminatório, outra coisa é se meter na forma com que os outros gozam.”
Parece que o nosso Sartre dos panelaços acha que homens podem ditar pelo que o feminismo pode ou não lutar. Ele ainda não entendeu que um homem não pode dizer o que as feministas devem fazer porque não vivencia a nossa luta. Se esse homem for direitista e reacionário, pode menos ainda.
Mas ele continua. O show de absurdos parece nunca acabar:
“Ao se meter embaixo do lençóis, essas feministas azedas atrapalham a já difícil vida sexual cotidiana.” “Quando vamos perceber o fato óbvio de que o feminismo é a nova forma de repressão social do sexo?” “A liberdade sexual acabou e em seu lugar nasce a heterofobia.” “Antes eram as freiras que odiavam o sexo, hoje são as feministas mais chatas: para elas nada ficar de quatro ou de “engolir”
Temos aqui, ao que me parece, o retrato do fracasso sexual de um senhor de meia idade que tira fotos engraçadas segurando cachimbos e brada no twitter para amenizar o azedume de sua “já difícil vida sexual cotidiana.” Pondé precisa compreender que as feministas não são as culpadas por suas frustrações sexuais.
Há inúmeras outras explicações mais simples e mais prováveis: papo desinteressante e ejaculação precoce, por exemplo.
Digo porque a ideia de que “feministas azedas” odeiam sexo é, para mim, novíssima. Nós gostamos tanto de sexo que lutamos pelo direito de fazê-lo sem julgamentos, sem opressão e sem objetificação.
Não é à toa que gritamos a plenos pulmões em todas as marchas das vadias do Brasil: “ei, machista, meu orgasmo é uma delícia!” Nós transamos, gozamos, ficamos de quatro e engolimos, sim – mas só quando nós queremos e com quem nós queremos. As feministas não odeiam sexo: elas odeiam sexo com homens como Pondé.
Nós escolhemos – porque nós podemos escolher – aqueles que compreendem a nossa liberdade e sabem que não se faz sexo só com o pênis – faz-se com o corpo inteiro e com uma boa dose de consciência. Se Pondé não se adequa a esse perfil, lamento: a culpa não é do feminismo.
O grande problema dos homens machistas – em se tratando especificamente de sexo – é que uma mulher empoderada sabe que sua sexualidade deve, antes de tudo, servir a ela mesma; ela não volta a sair com um homem que goza e ronca em alguns minutos.
Ela não se contenta com o feijão com arroz com que homens como Pondé, provavelmente, estão acostumados “quando se metem entre os lençóis.” Ela sabe que sexo não é moeda de troca e que nenhuma mulher precisa fazer, na cama, nada além do que dê prazer a ela mesma e ao seu parceiro.
O grande “filósofo” ainda não entendeu, mas sexo é também um ato político. E quando uma mulher se empodera – dentro e fora da cama – ela passa a fazê-lo com mais liberdade, intensidade e respeito ao próprio prazer.
E para um homem inteligente, ver sua parceira mais empoderada e, portanto, mais livre, é positivo. Comemora-se que uma mulher perca os pudores, conheça a si mesma e aprenda a sentir prazer em vez de servir como mero objeto para o prazer alheio.
Para um homem medíocre, ao contrário, é incômodo: e incomoda porque tira-o da zona de conforto, obriga-o a ir além do papai e mamãe – o que homens como Pondé provavelmente não querem fazer.
Os homens medíocres preferem que suas parceiras permaneçam sonsas, pudicas, desinformadas, omissas, quase mortas. Isso lhes facilita a “já difícil vida sexual cotidiana.”
Não posso culpá-lo, entretanto: ele é apenas o retrato patético de uma direita que demoniza e deturpa toda evolução social porque, por mediocridade, não consegue acompanha-la. “Quem não sabe rezar xinga a deus”, diria a minha avó.
A direita brasileira é uma piada (sem graça).