Publicado originalmente no site Brasil de Fato
POR CATARINA BARBOSA
Desde o último sábado (7), o governo do estado do Amapá criou um sistema de rodízio para abastecer a população afetada pelo apagão, na última terça-feira (3). No entanto, moradores da capital Macapá ouvidos pelo Brasil de Fato afirmam que bairros onde moram desembargadores, juízes e promotores tiveram a energia reestabelecida por completo, não sendo necessário o rodízio de 6h imposto ao restante da população.
O sistema funciona da seguinte forma: há bairros que ficam seis horas com abastecimento de energia e depois seis horas sem energia. Marta da Silva, militante do Levante Popular da Juventude, diz que há bairros em que não foram incluídos no cronograma elaborado pelo governo e que estão há mais de cinco dias sem água e sem energia.
“Existem bairros mais ao extremo que estão sem energia e sem água há mais de cinco dias. Essas zonas não foram inclusas no sistema”, denuncia.
Se por um lado pessoas áreas periféricas da cidade permanecem sem água e sem energia, Marta denuncia que condomínios de luxo de Macapá já contam com energia 24 horas por dias.
“Existe uma contradição muito grande e revoltante, que ocasionou diversas manifestações na cidade: o fato de locais terem energia 24 horas, onde não há comprovação de que exista estabelecimentos que careçam de energia 24 horas. É o caso de condomínios da Zona Sul, como o Condomínio Mônaco e San Marino, que são condomínios fechados, onde mora a elite local. Nesses locais têm energia 24 horas. São lugares onde moram desembargadores, juízes”, critica.
Sem direito até ao racionamento
A pedagoga Laura Ramos, que mora na periferia de Macapá, em um bairro chamado Marabaixo, diz que a energia dura – no máximo – três horas por dia.
“A situação no Estado do Amapá continua caótica. Nada melhorou, nada voltou. Estamos agora vivendo o rodízio onde bairros nobres são beneficiados e as periferias estão à mercê de duas, três horas”, conta ela.
Ramos considera discrepante a forma que a população mais pobre está sendo tratada pelo governo em meio ao apagão.
“O povo da periferia, o que tinha de reserva em suas geladeiras não têm mais. Falta água potável, porque a nossa água também não é de qualidade. Pagamos um preço abusivo tanto de taxa de energia quanto de água e nós não temos uma água potável digna para a população amapaense”.
A Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) disse que há bairros que não foram citados “porque estão nos mesmos transformadores ou alimentadores que atendem regiões citadas no cronograma”.
Quanto aos bairros que têm energia 24h, a companhia afirma que “não são bairros em sua totalidade, mas trechos de alguns bairros que estão localizados em unidades que prestam serviço essencial”. Estão entre os serviços considerados essenciais unidades básicas de saúde (UBSs) e pronto-atendimento, serviços de tratamento da covid-19 no estado, atendimento bancário e empresas de telecomunicação.
“Algumas residências que se localizam nesse circuito dessas unidades que estão recebendo eventualmente esse serviço 24h. Não foi possível isolar só a rede do banco, do hospital porque exigia uma logística muito grande e a gente não tem tempo pra atuar nisso visto toda a gravidade da situação”.
Sobre os bairros que estão há cinco dias sem água e sem energia, a Companhia de Eletricidade do Amapá disse que “há regiões em que o fornecimento fica interrompido por problemas na rede em determinados trechos, intervenção sem autorização da companhia e demais ocorrências isoladas que não afetam os bairros em sua totalidade. Neste caso, não são falhas decorrentes do sistema de rodízio. A orientação é fazer a abertura de chamado via 116”