O depoimento de Lula ao juiz Marcelo Bretas chamou a atenção pelas tiradas de humor, posicionamento político claro, respostas impactantes a todas as perguntas e confiança no futuro. Lula mostrou que não se abala, apesar de ter sido transformado em uma das figuras públicas mais perseguidas na história do Brasil. Ao final, nem o juiz resistiu.
“É relevante a sua história para todos nós. Para mim inclusive que, aos 18, 17 anos, estava aqui num comício na presidente Vargas, um milhão de pessoas, vivíamos um momento diferente no país, eu estava lá, usando boné e uma camiseta com seu nome”, contou.
Lula, rapidamente, lembrou que a história não acabou:
“Quando eu fizer um comício agora, eu vou chamar o senhor para participar”.
Bretas finalizou:
“Muito obrigado pela postura e pelo depoimento.”
A admiração de Bretas pelo depoente era clara, parecia sincera, e, ao não esconder o que pensava ou sentia, comportou-se como a maioria das pessoas que ouvem o ex-presidente, mesmo não gostando dele.
Quando Lula fala, há sempre uma reversão de comportamento de quem ouve, como aconteceu em um de seus últimos discursos antes de ser preso.
Foi na cidade de Chapecó, Santa Catarina.
Antes de Lula começar a falar, manifestantes passaram horas xingando e atirando pedras na direção do palanque. Bastaram cinco minutos da fala de Lula para que silenciassem.
“A língua de Lula é uma arma”, reconheceu o procurador de um tribunal militar no início da década de 80, quando o então sindicalista foi processado por repetir um ditado durante ato com seringueiros: “Está chegando a hora da onça beber água”: era o que Lula tinha dito.
A frase, singela, foi interpretada como incitação à violência.
Lula acabou absolvido, pois não fazia sentido condená-lo por conta de um ditado, mas, na acusação, havia uma verdade: a língua de Lula é, de fato, uma arma, e isso explica por que o Jornal Nacional da Rede Globo tem tanto medo dela.
Silenciou o ex-presidente em sua última edição, a de 5 de junho.
Ao noticiar o depoimento do ex-presidente a Bretas, o Jornal Nacional colocou as imagens de Lula durante a audiência, imagens que foram transmitidas por videoconferência desde Curitiba, onde está preso.
Mas sonegou do seu público a voz do ex-presidente.
Fez uma nota coberta, como se diz no jargão das redações de TV.
Era a primeira vez que o líder nas pesquisas de intenção de voto para presidente aparecia, quase dois meses depois de ser preso.
Mas, com os recursos de edição, o JN da Rede Globo procurou tirar a importância da notícia, natural para quem está empenhado numa campanha para levar à morte política de Lula.
E quem age assim sabe o risco que corre se permitir que fale, que o público ouça o que tem a dizer.
Mesmo que seja por alguns segundos.
Assim, quem viu o JN da Rede Globo ficou desinformado, perdeu o melhor da notícia, e mais uma vez se viu à mercê de um noticiário que cria fantoches.
Felizmente, os brasileiros não precisam desse tipo de mediação para saber que Lula está firme, bem disposto e lutando pela oportunidade de fazer o próximo discurso, com Bretas vestindo camiseta e boné com o seu nome.