Muito estranha a história do vazamento de uma conversa entre Onyx Lorenzoni e Jair Bolsonaro quanto a pendências deste com o ex-ministro Gustavo Bebianno.
“Você vai conversar com ele sobre as ações?”, pergunta Bolsonaro.
Onyx responde que sim.
“Se ele (Bebianno) me cobrar individualmente o mínimo, eu tô fodido. Tem que vender uma casa minha para poder pagar”, comenta o presidente.
A versão oficial é que a conversa teria sido registrada por um repórter de O Globo, que estaria do outro da linha de Onyx, e deu publicidade a ela.
É o tipo de diálogo em que Bolsonaro sai bem na fita.
Afinal, em uma conversa privada entre Onyx e Bolsonaro, alguém poderia esperar algo mais bombástico.
Por exemplo, o medo de que Bebianno revelasse como funcionou o esquema de fake news durante a campanha de Bolsonaro.
Mas não.
O que sai do diálogo é a imagem de um homem simples, preocupado com os honorários de um advogado bem posicionado.
Um homem que teria de vender uma casa para pagar o advogado.
Outro objetivo do vazamento poderia ser fortalecer Bebianno, mostrar que ele é credor de Bolsonaro.
Se este foi objetivo, há sinais de que Bebianno já esfriou a cabeça.
Logo depois deflagrada a crise, o então ministro trocou a foto de seu Instagram e colocou uma em que aparece portanto um fuzil e mirando um alvo.
Hoje, a foto voltou a ser de Bebianno de paletó, com um discreto sorriso.
A preocupação de Bolsonaro com os honorários de Bebianno também não faz sentido porque as ações em que ele defende o ex-chefe não são caras.
Um colaborador do DCM, que é advogado, pesquisou os processos em que Bebianno tem procuração de Bolsonaro.
São três: um de Bolsonaro contra o radialista Marco Antônio Villa, da Jovem Pan, outro contra Ciro Gomes e o terceiro contra Jean Wyllys.
São todos por crimes contra a honra.
Bolsonaro reclama que teria sido ofendido pelos três.
Pelas informações disponíveis no sistema da Justiça, não há sentença em nenhum desses processos.
Talvez Bolsonaro devesse ficar preocupado com outras ações de Bebianno.
No sistema de Justiça, o ex-ministro aparece como advogado em vários processos de interesse de seguradoras.
É advogado da Bradesco Seguros e da Icatu Hartford, instituições que negociam planos de previdência privada e, naturalmente, têm interesses na reforma que beneficia o mercado em que atuam.
Bebianno, pela proximidade que teve com Bolsonaro, deve ter muito mais motivo para acossar o ex-chefe do que apresentar a conta de honorários.
Mas, entre eles, há um elo poderoso: as instituições bancárias ou de previdência privada.
E talvez fique tudo por isso mesmo.
Afinal, no vazamento estranho, Onyx promete conversar com Bebianno.
“A Folha deu uma nota e o Antagonista acabou de reproduzir e ele (Bebianno) acabou de ligar e pediu para tirar. Que é o seguinte… Que ele estava preparando documentos e não sei o quê para atacar. Ele disse ao Jorge (possivelmente Jorge Oliveira, subchefe de Assuntos Jurídicos do Planalto): ‘O que eu tinha para fazer, eu fiz ontem. Eu não dou mais nenhuma palavra, acabou tudo ontem. Eu to te dando a minha palavra. Ok?’ Então, agora, no fim da tarde, para tu saber, eu vou lá dar uma conversada com ele.”
O Antagonista retirou a nota.
Bebianno ainda não se pronunciou.
Deve estar conversando bastante. Ou as conversas já terminaram.