Usei algumas horas do meu dia tentando compreender por que o termo “grelo duro” utilizado pelo ex-presidente Lula para definir as feministas petistas seria ofensivo. Primeiro porque, quando um termo é ofensivo, o meu detector de machismo costuma funcionar muito bem: a revolta é instantânea.
Ademais, não me ofenderia por ser chamada de mulher de grelo duro. Quando estou de grelo duro – literalmente, quero dizer – isso não costuma me incomodar, muito pelo contrário, aliás.
Trocadilhos providenciais à parte, o que Lula quis dizer – e que foi, como já era de se esperar, manipulado pela grande mídia – é o que Brasil precisa das mulheres fortes – nós, as mulheres de grelo duro – na luta contra as intenções golpistas de uma direita fascista.
O que ele quis dizer – e disse – é que nós precisamos nos levantar contra os políticos que, além de sórdidos, são machistas em suas relações pessoais. Contra Aécio Neves, acusado de agressão física contra a esposa; FHC, que manteve um relacionamento abusivo com sua amante e pressionou-a a abortar contra a sua vontade; contra Bolsonaro, que disse à Maria do Rosário que não a estupraria porque “ela não merece”.
“Faz um movimento da mulher contra esse filho ****. Porque ele batia na mulher, levava ela pro culto, deixava ela se f****, dava chibatada nela. Cadê as mulheres de grelo duro do nosso partido?”
Nenhum conselho poderia ser mais certeiro: um movimento de mulheres contra os misóginos que não suportam ver uma de nós na Presidência da República, contra o conservadorismo que nos atinge mais fortemente do que aos homens, contra a elite que se recusa a reconhecer os próprios privilégios e por isso – só por isso – sente-se representada por políticos que, além de corruptos, são opressores em suas vidas privadas.
E para lutar contra isso, só mesmo as mulheres de grelo duro. E são elas que vão salvar o país.
A revolução será feminista.