Os brinquedos sexuais femininos surgiram tímidos, envoltos por uma atmosfera de hipocrisia e castração. Os vibradores, por exemplo, foram criados como uma alternativa de tratamento para a histeria.
A mulher freudiana, definida predominantemente sob a perspectiva sexual, era a consumidora do produto por indicação médica e com fins terapêuticos, e não como forma de libertação sexual da figura feminina. A priori, o prazer solitário feminino ainda era inadmissível.
Hoje, a indústria erótica – alimentada, em grande parte, pelo público feminino – já comercializa vibradores fabricados em ouro pela bagatela de R$ 58.000 – o que significa, necessariamente, que o empoderamento feminino tem se mostrado suficientemente lucrativo ao sistema.
Segundo a pesquisa Mosaico Brasil, realizada pela psiquiatra Carmita Abdo em 2008, 35% a 40% das mulheres brasileiras não têm o hábito de se masturbarem regularmente, talvez por falta de tempo para si mesmas, diante das tantas obrigações atribuídas à mulher moderna, ou – mais provavelmente – porque a masturbação feminina ainda é um tabu.
O consumo de produtos eróticos é, entretanto, apenas uma das inúmeras maneiras de que nós, mulheres, dispomos para alimentarmos um prazer autônomo e descobrirmos o nosso próprio corpo.
O prazer solitário ainda é tido, largamente, como uma espécie de ‘consolo’ pela suposta ausência do sexo compartilhado – mas, francamente: o quão fácil pode ser, para uma mulher, conseguir sexo casual? Isso nos custa, em geral, um telefonema (se muito). A mulher moderna se masturba – cada vez mais – porque é capaz de sentir prazer sozinha e tem descoberto a cada dia que pode fazê-lo.
Muitas mulheres me relatam, em segredo, que só conseguem atingir um orgasmo através da masturbação. O gozo, entretanto, é apenas uma consequência: o grande barato da masturbação é conhecer o seu próprio corpo como fonte de prazer. Descobrir-se, conhecer-se, relacionar-se consigo mesma.
O prazer oriundo da penetração é apenas uma entre as tantas fontes de prazer que o corpo feminino oculta. Nós não precisamos, portanto, necessariamente, de vibradores caríssimos.
O processo de prazer solitário não é tão simples quanto um sexo britadeira com um vibrador elétrico. É complexo e cheio de pormenores. Envolve conhecer nossas zonas erógenas, nossas preferências, nossos próprios órgãos genitais.
Antes do gozo, é preciso que amemos o nosso próprio corpo, o nosso próprio prazer. Que conheçamos de perto cada milímetro de nossas vaginas, cada estímulo e cada reação, e que esqueçamos, de uma vez por todas, este odioso mito que insiste em nos dizer que a masturbação é condenável ou que serve apenas para que acalmemos os nossos ânimos – exatamente como a ideia freudiana de castração. Nós nos masturbamos porque queremos e podemos, e não há nenhum mal nisso.
A mulher moderna conhece o próprio corpo e compreende que não precisa de um vibrador de 58 mil – precisa, antes disto, aprender a satisfazer-se sozinha, com recursos mais psicológicos do que físicos. E jamais duvida do poder de uma mulher que compreende – e promove – o próprio prazer.