Mais do que falas e atos de Jair Bolsonaro, espantam as surpresas que causam. Razões para tanto só podem residir em desconhecimento da história recente. Nunca, em momento algum, o antes deputado deu motivos para duvidar-se de sua incapacidade. Incapacidade já provada anteriormente, quando capitão do Exército defenestrado da corporação.
Hoje, analistas perdem tempo precioso a conjecturar sobre estratégias do bolsonarismo. Porque o presidente mostra a volúpia despótica de modo estudado dali, ou porque o faz intempestivamente daqui. Fico com o segundo modelito.
Quem conhece um pouco da vida, circulou em algum momento pelos ambientes do baixo clero intelectual, sabe como pensam e agem pessoas daquela falta de aptidão para o trato de qualquer tema não rasteiro.
É gente que lidaria com problemas da Nação no alto do Poder Público da mesma forma com que discute a mulher alheia no boteco. Gente que confunde simplicidade com mau gosto, sinceridade com grosseria.
Incapaz de agregar meia dúzia de assessores confiáveis à sua volta, mesmo porque ninguém o suporta, o presidente coopta congêneres ideológicos para em pouco tempo ver-se obrigado a descartá-los por inépcia só comparável à dele próprio.
De cada fala presidencial pode-se extrair uma quebra de decoro, cada quebra de decoro guarda uma afronta à razão e à Constituição. A cada pronunciamento ou medida do presidente, mais o Brasil afunda no ridículo perante o mundo civilizado.
O presidente não compreende a economia, a sociedade, a diversidade, a arte, a ciência, a natureza, a política. Seus seguidores, idiotas úteis, também não compreendem nada disso. Personificam o oposto do que se chama de sabedoria popular: constituem a ignorância popular, e orgulham-se dela por contrapor-se, a ignorância, à lógica cartesiana que sempre os diminuiu.
As dezenas de pedidos de impeachment protocolados no Congresso talvez não andem, mesmo diante da gravidade de suas posturas quanto à pandemia do novo coronavírus, a última delas dotada de potencial para inviabilizar a vacinação da população no curto prazo.
Há temor latente das consequências de um processo desse tipo. O presidente personifica a pior das crises. Algo paralisa as forças contrárias ao protofascista, limitadas a inócuas notas de repúdio e manifestações contrárias em redes sociais. Estamos na roça.