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Por Moisés Mendes
Bolsonaro pode repetir a live de quinta-feira, em que agrediu a Justiça Eleitoral e provou que não tem provas de fraudes em eleições, e no curto prazo não acontecerá nada.
Se quiser, pode até dizer em mais uma transmissão ao vivo que, se perder a eleição por 7 a 1 para Lula, o filho Dudu chamará o jipe, o cabo e o soldado e invadirá o Supremo e o TSE.
Bolsonaro continua com imunidade para dizer o que bem entende porque não conhece os próprios limites e não tem limites impostos pelos que ele ofende e poderiam enfrentá-lo em nome das instituições. Mas não só por isso.
As reações ao que ele faz e diz estão sempre aquém do dano causado. Todas as manifestações de qualquer área, incluindo a imprensa, em resposta às ameaças de Bolsonaro, são insuficientes como contraponto às suas agressões.
Os blefes de Bolsonaro são ofensivamente mais fortes, mesmo que sejam blefes, do que qualquer resposta racional aos seus desatinos.
Gilmar Mendes, Luiz Fux, Alexandre de Moraes, todos podem dar respostas contundentes a Bolsonaro, mas que serão apenas respostas contundentes.
Mendes pode dizer que Bolsonaro precisa parar de dizer besteiras sobre o voto impresso. Fux, com quem Bolsonaro firmou uma trégua há apenas 18 dias, pode discursar na segunda-feira, como já avisou, com a reafirmação de recados a Bolsonaro e a Braga Netto.
Alexandre de Moraes pode determinar, como advertência, que a Polícia Federal retome as investigações sobre as interferências de Bolsonaro na própria Polícia Federal.
Mas tudo o que integrantes do Supremo ou do Congresso (pobre Congresso) fizerem ou fingirem que fazem estará sempre muitos tons abaixo dos ataques produzidos. Tem sido assim.
Bolsonaro faz o que bem entende por saber que instituição alguma e em lugar algum será incapaz de enfrentar o fascismo se não tiver respaldo do que vem das ruas, e não da internet.
Não o respaldo dos humores subjetivos do mundo virtual. Tampouco o respaldo de vontades expressas em voz alta, em tribunas diversas, mas sem a correspondente ação política.
Bolsonaro sabe que as instituições da democracia não impõem medo ao autoritarismo se não tiverem muito mais do que os ecos da indignação e da gritaria.
As quatro manifestações de rua contra Bolsonaro constroem perspectivas incertas. As esquerdas não podem se enganar. O que aconteceu até agora nas ruas ainda é pouco.
A cada manifestação, a controvérsia é sempre a mesma, e o Brasil debate se a caminhada mais recente foi maior ou menor do que a anterior. Se não há consenso sobre o crescimento dos protestos, é porque estamos quase onde começamos.
São quatro manifestações em dois meses. Repetem que os atos ganharam em capilaridade, com as caminhadas espalhando-se por mais cidades, mas ainda falta potência política.
Anunciam que a grande manifestação será a de 7 de setembro. Mas o que virá, e quando, depois do 7 de setembro? O 15 de novembro?
As esquerdas avaliam as fragilidades de Bolsonaro a partir da imprecisa, porque alugada, base política do centrão, e da sempre gasosa fidelidade dos militares, ou Bolsonaro não teria perdido seus chefes das três armas e o ministro da Defesa.
E Bolsonaro conta com as incertezas e os medos das instituições e das esquerdas. E sabe que as esquerdas e as instituições não têm ainda o povo que esperavam ter.
Hoje, Bolsonaro só corre riscos diante dos rolos dos coronéis da CPI do Genocídio e da ameaça do imponderável, sempre presente em lives como a de quinta-feira e nos momentos em que pede colo à claque do cercadinho do Alvorada.
Nos improvisos, ele pode a qualquer momento tropeçar numa frase que o conduza ao erro fatal. Mas o que poderia ser esse erro?
Não há como saber ou intuir, ou não seria o imponderável. A democracia brasileira pode estar hoje na dependência desse imponderável.