Publicado na DW.
Elas já haviam cruzado metade do caminho em direção à região sob controle do “Estado Islâmico”, quando, no último fim de semana, foram interrompidas. As três americanas, de entre 15 e 17 anos, foram descobertas pela polícia em Frankfurt – e mandadas de volta para os Estados Unidos.
Outras meninas da América do Norte e também da Europa, no entanto, conseguiram chegar a seu destino final: a Síria. Entre as pessoas que voluntariamente estão se engajando junto ao EI, o número de mulheres ainda é baixo. Mas está aumentando.
Há poucos meses, o caso de uma estudante de 16 anos de Constança, no sul da Alemanha, causou frisson. Secretamente, ela atravessou a Turquia e viajou até uma área de treinamento na Síria.
Segundo cálculos de Katherine Brown, especialista em terrorismo da King’s College de Londres, cerca de 200 mulheres já deixaram a Europa em direção à zona de conflito na Síria.
“O ‘Estado Islâmico’ oferece uma utopia política”, explica a pesquisadora em entrevista à DW. “Há uma romantização a respeito da região sob domínio dos radicais islâmicos”. Para Brown, também conta o fato de muitos muçulmanos se sentirem excluídos na Europa.
Há ainda os jovens, lembra Brown, que se sentem impulsionadas pela sede de aventura, algo parecido com o que ocorreu durante a Guerra Civil Espanhola, há mais de 75 anos. “Elas querem ser parte de algo novo, como mães do Estado e mulheres dos combatentes”, afirma a pesquisadora.
Jovens são maioria
Segundo Burkhard Freier, diretor do departamento de proteção à Constituição da Secretaria de Segurança da Renânia do Norte-Vestália, pelo menos 25 mulheres deixaram o estado rumo às regiões sob controle do EI.
Muitas jovens integrantes do EI chegaram ao caminho da radicalização pela internet. Elas se deixam seduzir por vídeos, blogs e posts no Facebook divulgados por outras mulheres que vivem na área sob domínio dos jihadistas.
A rígida interpretação do Alcorão feita pelos radicais, porém, oferece na verdade pouco espaço para as mulheres. No mundo pregado por eles, cabem a elas apenas duas funções: de companheira leal do combatente e de mãe. Por princípio, mulheres não podem ir a combate.
No entanto, algumas acabam se envolvendo com atos de violência ou pelo menos se mostram como combatentes. Katherine Brown conta que leu em um blog de uma médica da Malásia: “Tenho meu estetoscópio e minha Kalishnikov, o que mais se pode precisar?”
Na semana passada, lembra ainda a especialista, foi publicada uma foto de um francesa com um cinturão de explosivos, como uma mulher-bomba.
Burkhard Freier, porém, não acredita que essas mulheres participem de combates. “Elas servem para fazer vigilância e dar apoio aos homens”, afirma. Ele conta ainda que muitas só se dão conta de seu papel limitado quando já estão lá – tarde demais para desistir e voltar.
Essa é exatamente a experiência pela qual duas jovens austríacas teriam passado. Após seis meses vivendo no “Estado Islâmico”, casadas com jihadistas, elas teriam entrado em contato com amigos e contado que não aguentavam mais o banho de sangue.
Poucos meses antes, as meninas de 16 e 17 anos tinham publicado fotos de si mesas completamente cobertas por véus e segurando fuzis. Na época, elas anunciaram estar dispostas a morrer por Alá.
Tanto Brown quanto Freier acreditam que a radicalização das mulheres tem mais a ver com política e protestos do que com religião, pois muitas começam a viagem com pouco conhecimento sobre o que é de fato o islamismo e como isso afetaria suas vidas.