Por que chamar bilionário de burro é lacração barata e despolitizante. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 26 de junho de 2023 às 15:17
Hamish Harding, Paul-Henri Nargeolet, Stockton Rush, Shahzada Dawood e seu filho, Sulaiman Dawood, as vítimas que morreram em passeio de submarino aos destroços do Titanic. Foto: Reprodução

Passada a “euforia” em torno dos cinco super-ricos que morreram implodidos numa cápsula submergível em águas internacionais na intenção de visitar o que sobrou do famoso Titanic, considero oportuno insistir numa tese que me parece cara.

A internet vive de engajamento, portanto, quanto mais conteúdo raso e lacrador, mais fácil a aquisição de likes e compartilhamentos. O problema é que na busca de uma coisa, se perde outra.

Chamar de burros os cinco iluminados que decidiram se enfurnar numa lata de sardinha semirudimentar numa aventura que muitos possam considerar, com muita razão, fútil, é divertido e encontra fácil quem se identifique com esse pensamento.

Mas a questão vai, com o perdão do trocadilho, mais a fundo.

Burrice é uma deficiência quase que física. Da mesma forma que ninguém quis nascer cego, ninguém optou por nascer com os, digamos, genes da burrice.

Daí que atribuir burrice a certos atos de certas pessoas equivale a humanizá-los. O que representa, na luta de classes, um erro crasso.

Percebam! Quando um Neymar, por exemplo, infringe uma meia dúzia de leis só para construir a sua mais nova mansão, não é porque ele seja burro o suficiente a ponto de não saber que está infringindo leis básicas.

É simplesmente porque a arrogância que o dinheiro lhe confere o faz descaradamente menosprezar as leis e as penas consequentes de suas violações. O que para os simples mortais são, de fato, proibitivos, para milionários são… nada.

Atribuir de forma simplista à burrice o ato dos bilionários é trazê-los a uma condição que não é exatamente condizente com suas posições.

É não enxergar que foi a soberba, elevada a enésima potência, que os fizeram acreditar piamente que as próprias leis da física não se aplicariam a eles.

Para o que fizeram podemos atribuir irresponsabilidade, inconsequência, auto-idolatria, sentimento de potência exarcebado, o diabo-a-quatro. Burrice, simplesmente, não! Isso é despolitizante.

De pessoas burras eu sinto pena. De bilionários eu sinto ódio.

As consequências de uma coisa e outra podem muito se assemelharem? Com certeza! Mas daí lembremos Marx, sempre ele.

Se a aparência correspondesce à essência, não precisaríamos de ciência.

Burrice, tanto quanto soberba e arrogância, pode matar. Mas o que motivam seus atos (e isso é o que realmente importa) são coisas completamente diferentes.

Portanto, cuidado ao taxar certas pessoas de burras.

O burro, no caso, pode está sendo você.

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