É assim que se produz o “jornalismo de guerra”, para usar a expressão com a qual o editor do Clarín definiu o trabalho com que seu jornal sabotou sistematicamente Cristina Kirchner.
Aparece um DataFolha devastador para Temer, uma pesquisa que deveria levar senadores não comprometidos com o golpe a refletir seriamente sobre a votação que vai definir o impeachment.
Vejamos.
1) Apenas 14% dos ouvidos aprovam Temer. É a miséria da miséria, uma percentagem de fim de administração em crise, mas não de um alegado início de “governo de salvação nacional”.
2) Um terço das pessoas sequer sabe o nome de quem está na presidência. Isto dá o tamanho da insignificância de Temer.
3) Metade dos brasileiros quer Temer fora já, ou mediante a volta de Dilma ou por um plebiscito.
Mesmo assim, você lê nos colunistas ligados a Temer que ele está comemorando o Datafolha.
Comemorando o quê?
O único ponto realmente favorável a Temer foi a edição fantasiosa que a Folha deu à pesquisa, o que acabou por dar o tom para os demais jornais.
“Metade dos pesquisados prefere Temer a Dilma” foi o destaque da Folha e do resto da mídia.
O colunista do Globo Ricardo Noblat, a partir disso, decretou que os brasileiros preferem Temer a Dilma. (Noblat é um dos mais fanáticos soldados do jornalismo de guerra imposto pelos donos da mídia.)
Foi exatamente aquela licença poética que Temer acabou por adotar e festejar, como noticiou hoje outro colunista do Globo, Ilimar Franco.
Mas é uma festa de mentirinha, feita para enganar analfabetos políticos e senadores indecisos.
Por mais ginástica que se faça com os números do Datafolha, o resultado para Temer é uma tragédia.
Quanto mudaram as coisas desde a saída de Dilma é claro. Pouco antes do golpe, o Globo deu uma manchete na qual afirmava que o placar da vontade popular, com base em manifestações, era 93% pelo impeachment versus 7% contra.
Foi uma das etapas mais baixas do jornalismo de guerra dos irmãos Marinhos, que com o pai Roberto aprenderam a fazer qualquer coisa pela manutenção de suas mamatas e privilégios à base de dinheiro público.
Temer joga tanta desesperança sobre os brasileiros que, às vésperas de uma Olimpíada que deveria trazer celebração e otimismo, o ambiente é de melancolia profunda. O Datafolha diz que metade dos brasileiros é contra os jogos.
Escrevi em outro texto: é a temerite, doença derivada de Temer que espalha desalento e depressão.
O Brasil está com temerite aguda.
Temer não tem por que festejar nada — por mais que a imprensa amiga, com seu jornalismo de guerra, finja que tem.