Alguma intenção pode haver por trás de um pedido que com certeza lhe seria negado.
Não encontrei uma resposta inteiramente satisfatória para uma pergunta que me ocorreu esta semana: o que levou Dirceu a pedir autorização ao Supremo para ir ao funeral de Chávez em Caracas?
Dirceu é, inegavelmente, um homem inteligente. Na única vez que o vi em ação, num Roda Viva, e escrevi já sobre isso, ele dominou confortavelmente as discussões. Pareceu muito mais preparado intelectualmente que os entrevistadores.
E então?
Ou por dor crônica nas costas ou por severidade patológica ou por qualquer outra razão, Joaquim Barbosa já dera repetidas mostras de ausência de magnanimidade.
Por que ele haveria de contrariar a própria índole e autorizar Dirceu?
Dirceu certamente sabia que estava pedindo uma coisa à pessoa menos propensa a concedê-la. Como bobo ele não é, ficou em mim uma desconfiança.
Dirceu pode ter querido no fundo mostrar, ou sublinhar, a índole de JB: fora dos conhecidos círculos de direita, é difícil imaginar alguém que não tenha visto no gesto um ato de mesquinharia, de pequenez humana.
Caso JB se candidate à presidência, e isto é por enquanto uma mera especulação, a rejeição ao pedido de Dirceu pode ajudar na construção do perfil de um homem viciado em dizer não mesmo quando poderia dizer sim, com o semblante crispado e sem traço de sorriso.
A voz rouca das ruas – como ficou tão espetacularmente claro nos tributos a Chávez entre os venezuelanos – não gosta nem um pouco desse tipo de personalidade, fundada num cruzamento de arrogância senhorial com antipatia inclemente.
E a resposta acaba aparecendo nas urnas.