Por que Eduardo Cunha não faz como Romário e vai para a Suíça provar que não são suas as contas que lhe são atribuídas?
Bem, porque não dá. Simplesmente não dá.
Não que houvesse dúvidas, mas Cunha reforçou as certezas ao dizer, numa coletiva na noite de ontem, que se recusava a falar sobre elas.
Faltou colar um carimbo na testa: culpado.
As contas foram bloqueadas pelas autoridades suíças, e tudo indica que elas representam, enfim, o Waterloo de um homem que imaginou que podia tudo.
Como toda tragédia, o episódio se presta a piadas.
Por exemplo: por que Cunha não faz na Suíça o que tem feito costumeiramente no Brasil, manobrar nos bastidores para mudar uma decisão?
Ele fez isso, no Congresso, mais de uma vez. E agora, praticamente com a tornozeleira nos pés, trama para desfazer uma decisão conjunta do Planalto e do STF para por fim ao financiamento privado de campanhas.
A gambiarra seria uma PEC que, como por mágica, permitiria a continuação da fonte original de corrupção no país – o dinheiro que as empresas colocam em seus candidatos.
Eduardo Cunha simboliza isso. Sem esse dinheiro ele não seria nada.
O financiamento privado é a forma como a plutocracia toma a democracia.
O caso das contas na Suíça serve também para uma conclusão pouco engraçada.
É uma vergonha para a mídia, para Moro, para a PF e para Janot que o golpe fatal em Cunha tenha vindo dos suíços. Sinal do despudor da imprensa, um colunista da Veja escreveu que espera que Cunha derrube Dilma antes de ser preso.
Já virou clichê perguntar: e se fosse alguém do PT? Por isso, fujo dessa questão cuja resposta é óbvia.
Uma sociedade não pode levar a sério uma cruzada anticorrupção quando caminha livre um político do naipe e da ficha corrida de Eduardo Cunha.
Romário, com sua viagem à Suíça, criou um padrão de conduta para reagir a assassinatos de caráter como o que sofreu da Veja.
Mas isso é para inocentes, e não para Cunha.