Em meio ao alvoroço que se formou em Brasília a partir do vazamento do pedido de prisão solicitado pelo PGR, Rodrigo Janot, para quatro proeminentes partícipes do golpe, passou meio que despercebida a aprovação de Ilan Goldfajn para a presidência do Banco Central do Brasil.
Após ser sabatinado na manhã da terça-feira (7) pela Comissão para Assuntos Econômicos do Senado, Goldfajn foi aprovado pelo colegiado por 56 votos a favor, 13 contra e 1 abstenção.
Com mais essa indicação o presidente interino, Michel Temer, reitera e ratifica a sua plena incapacidade de reunir um quadro ministerial que não seja formado basicamente por investigados de corrupção, oportunistas de carreira, incompetentes declarados e, como é o caso do novo presidente do BC, suspeitos por gerar conflitos de interesses entre o público e o privado.
Ilan já é um velho conhecido do mercado financeiro. Passou pelo Fundo Monetário Internacional no período de 1996 a 1999 e um ano depois foi convidado por FHC para a diretoria de política econômica nesse mesmo Banco Central quando atuou de 2000 a 2003.
Aliás, é no mínimo curioso que IG trabalhasse no FMI no período em que Fernando Henrique quebrou o Brasil em 1998, a primeira de suas três vezes em que precisou se ajoelhar perante o órgão internacional.
Com Ilan Goldfajn já na diretoria do Banco Central, FHC se viu obrigado a expor para o mundo a fragilidade econômica que o país atravessava outras duas vezes, em 2001 e logo em seguida em 2002.
Dado o exposto, não se questiona a competência de IG para entregar as encomendas que lhe são confiadas. O que se questiona, e muito, é justamente quais são essas encomendas e, sobretudo, a quem se destinam.
Importante se faz ressaltar que até essa nova indicação para um cargo chave da política econômica brasileira, Goldfajn era sócio e economista-chefe do banco Itaú. Nessas condições é como trazer uma das maiores instituições financeiras do país para a posição de fiscal de si própria.
É de fato um retrocesso à era FHC quando uma das principais funções do Banco Central do Brasil era atender aos interesses e necessidades de banqueiros privados. Inclusive os do extinto Banco Nacional cuja filha do dono era casada com um dos filhos do próprio FHC.
A farra financeira patrocinada pelo Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (Proer), o caso em que FHC, via BC, segurou artificialmente a paridade entre o real e o dólar para garantir sua reeleição em 1998 e denúncias de vazamentos de dentro do BC pelo quais pelo menos 24 bancos foram beneficiados com informações privilegiadas — tudo isso são apenas algumas amostras do risco de colocar a raposa para cuidar do galinheiro.
Fora tudo isso, ainda existe a irresponsabilidade gritante de Temer em efetuar trocas no comando da política econômica quando as chances de Dilma retornar são cada vez mais reais. Num país onde a instabilidade política alimenta a instabilidade econômica, esse tipo de pirotecnia só agrava o nível de incertezas.
A decisão de trocar o presidente do Banco Central do Brasil por uma hiena do mercado financeiro privado só não é mais ultrajante do que a decisão de se trocar a presidenta da República por um rato da corrupção pública.
Jucá, Sarney, Renan e Cunha, seus parceiros no golpe, que o digam.