A maior ilusão da internet é achar que o Facebook é um espaço democrático. Não é. E, na verdade, nunca se propôs a ser.
Há uma reclamação generalizada sobre a censura da empresa. Recentemente, Danilo Gentili reclamou que sua página no Facebook foi excluída por uma ação massiva de petistas, que fizeram denúncias “vazias” para derrubá-lo. As páginas “Porra Serra” e “Aécio Never” foram retiradas do ar. A página “Socialismo da Depressão” não foi removida, mas alguns posts foram. “Mais um post removido do Socialismo da Depressão, mas dessa vez não foi com Aécio… Fazer humor com homofobia, machismo, violência, com Dilma, Lula, Plínio, Jean Willys, etc etc, pode. Ir contra tucano, olavete, reacionário, Reinaldo Azevedo, etc etc, NÃO PODE”, dizem os donos da conta.
Para que o Facebook seja um espaço de manifestações individuais e públicas (o que provoca essa ilusão democrática), é preciso ter controle que garanta a coexistência de tantas opiniões, informações e expressões divergentes. Controle é a principal atividade do Facebook.
Basta ler a “Declaração de direitos e responsabilidades”. Uma longa lista de regras em que a rede social tem direito a fazer tudo sem dar garantias de nada. Você não pode, por exemplo, publicar conteúdo com ” discurso de ódio, seja ameaçador ou pornográfico; incite violência; ou contenha nudez ou violência gráfica ou desnecessária”. E se você pagar por um anúncio, não há garantia de nada, nem mesmo da quantidade de pessoas que irão vê-lo.
O controle no Facebook é feito principalmente por meio de algoritmos. Ou seja, uma complexa combinação de parâmetros que opera, automatizada, por “robôs”. Teoricamente, eles vasculham os perfis e páginas para localizar manifestações que não cumprem as regras e, nesses casos, aplicam penalidades — como cancelar páginas e bloquear algumas ou todas as atividades de usuários. Também levam em conta as denúncias feitas por usuários — o que pode também resultar em penalidades.
Assim, faz sentido a reclamação de várias pessoas. Faz sentido, mas não quer dizer que tenha acontecido de fato. A página de Gentili, por exemplo, está lá, com mais de 3 milhões de seguidores e posts recentes — não há o menor registro de que tenha sido excluída, ainda que temporariamente. O fato é que o Facebook exclui páginas e bloqueia perfis muitas vezes sem justificativa nenhuma. Quando isso acontece, é possível recorrer dentro do próprio Facebook — e a resposta é sempre feita por uma máquina, com frases feitas. E não se pode ir além.
Há casos claramente contraditórios, que não podem ser atribuídos aos critérios de uma máquina, mas a gente que controla essas máquinas.
A página da revista Playboy, por exemplo, é alvo constante de censuras e punições, o que é de se esperar de uma publicação que construiu sua marca ao longo de 60 anos baseada nas imagens de mulheres nuas. Por outro lado, sobrevivem incólumes contas muito mais ousadas, como “AcompanhantesSP” ou “Vamos fuder e trepar” — cujo conteúdo é fácil imaginar. Como não concluir que há um controle maior e humano?
Também não faz sentido que sejam apenas robôs os responsáveis pelas constantes penalidades que sofreram alguns perfis pertencentes ao movimento Anonymous — as fotos da polícia espirrando gás de pimenta nos manifestantes foram removidas sob a justificativa de que “violavam os padrões da comunidade”.
Essa vigilância tem chegado a tal ponto que se reflete na própria postura dos usuários. Segundo pesquisa publicada pelo jornal inglês The Telegraph, 33% das atualizações feitas por usuários são abortadas antes de publicadas — o que caractizaria uma espécie de auto-censura. A pesquisa foi feita pelo Facebook, que monitorou a atividade de 3,9 milhões de clientes do Estados Unidos e do Reino Unido.
Reclamar das arbitrariedades do Facebook é um tiro na água. Mas seria bom se a rede fosse transparente sobre os casos em que atua como censora, algo que hoje está longe de acontecer.