Por que o apoio de Garcia a Bolsonaro não surpreende nem os melhores aliados dos tucanos

Da direita mais encardida ele veio, nada mais justo que para a direita mais extrema ele retorne

Atualizado em 4 de outubro de 2022 às 19:00
Agora o ainda governador de SP está confortável

“Menos Bolsonaro”.

A frase acima me foi dita, por mensagem de Whatsapp, às 6h30 desta terça, 4, por um militante histórico do PSDB.

Após o tradicional bom dia que trocamos todas as manhãs, e sabendo que meu amigo de 30 anos ainda lambe as feridas da derrota deste domingo, arrisquei um “e agora?”.

Poucas horas depois o governador em exercício, Rodrigo Garcia, que lacrou o caixão do PSDB no principal estado do país, era citado como apoiador de Tarcísio de Freitas e Bolsonaro neste segundo turno.

Surpresa? Nenhuma para quem acompanha a trajetória de Garcia na vida pública. Vem de uma origem conservadora e clientelista.

É o que se chama no meio de político de “varejista”, aquele que troca apoios por benesses e interesses menores.

O que se dizia dele no final do ano passado, quando se preparava para disputar a reeleição, é que o orçamento do Estado para 2022 já estava comprometido inteiramente com interesses de prefeitos e vereadores, em sintonia com sua base de apoio na Assembleia Legislativa.

O então vice – o titular João Doria só viria renunciar em 1o de abril deste ano – vendia uma ideia que considerava inovadora: a de que pela primeira vez o acordo de divisão do orçamento em troca de apoios não iria acontecer de “cima para baixo”, mas de “baixo para cima”, com prefeitos e vereadores determinando aonde e como os recursos seriam investidos.

A estratégia se revelou um fiasco. Sem capacidade de formulação, e focado no toma-lá-dá-cá literal, Rodrigo passou todo o primeiro turno como um quase desconhecido dos eleitores.

Chegou ao cúmulo de deixar um dos debates com os demais candidatos sem falar com a imprensa. Assim que as câmeras cessaram a transmissão, saiu apressado, fugindo dos repórteres.

É esse o líder que agora declara apoio “incondicional” ao projeto fascista capitaneado por Bolsonaro e que tem Tarcísio de Freitas como seu preposto no estado.

Até onde pode ajudar ninguém sabe ao certo, já que os prefeitos e vereadores que tentou seduzir com verbas do orçamento já se abraçaram com o bolsonarismo no primeiro turno.

Ainda que seja novato no PSDB – foi levado por Doria para disputar o governo -, Rodrigo retrata com incrível realismo um partido que morreu de velho e só falta ser sepultado.

Que esse enterro se dê junto com o fantasma de Bolsonaro e seus fanáticos, considerando que a decisão unilateral do ainda governador não choca apenas a base do partido, mas também aliados históricos como Roberto Freire, presidente do Cidadania que foi às redes pedir que os tucanos, em respeito a própria história, convidem Rodrigo a sair do partido após ele “se entregar” na primeira hora “ao protofascista Bolsonaro”.

Da direita mais encardida ele veio, nada mais justo para para a direita mais extrema ele retorne.

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