Nosso colunista se pergunta até quando os chifres do Tufão vão liderar a audiência nacional.
Desde que Adriana Esteves começou a dar chilique na novela das nove, lê-se o nome da personagem dela em todos os cantos: a Carminha de Avenida Brasil não sai dos noticiários.
Até hoje, eu não tinha a menor intenção de escrever sobre os barracos que rolam em Avenida Brasil, apesar de conviver diariamente com conversas, comentários e piadas sobre o assunto. Mas ao ler a manchete “Carminha vence Corinthians e conquista a maior audiência da TV no ano” no site da Folha, senti vontade de fazer uma pequena reflexão sobre o assunto. Mas bem pequena, porque é o que merece.
Dá para ter ideia de quantas pessoas estavam na frente da televisão nesta segunda-feira, dia 8, às 21 horas?
Se a manchete apenas anunciasse que a novela bateu o recorde de audiência, é provável que eu não tivesse dado atenção. Mas logo percebi que se tratava de algo assustador.
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Pense no Corinthians, o time do povo, cujas partidas são as mais requisitadas pelas emissoras do Brasil por conta da audiência que proporciona. Agora pense nesse time disputando uma final de Libertadores (fato inédito na história do clube), com seus 30 milhões de torcedores torcendo desesperadamente e mais toda a nação anticorintiana secando intensamente.
Some isso ao fato do futebol ser a maior paixão do brasileiro e tente imaginar quantas pessoas assistiram a Corinthians e Boca Júnior na quarta-feira, 4 de Julho. Está difícil? Então vamos aos números. O evento marcou 48 pontos de audiência. Se cada ponto equivale a 60 mil domicílios no estado de São Paulo, podemos concluir que tinham quase 3 milhões lares assistindo ao Timão ser campeão da América — isso apenas em SP! É pouca coisa, cowboy?
Para Carminha é.
Avenida Brasil atingiu no começo da semana 49 pontos de audiência – o maior número da TV brasileira no ano. Tenho que admitir que isso me assustou um pouco. Eu não tenho a intenção de responder em definitivo a pergunta do título, mas podemos fazer algumas suposições:
– Para poder se distrair depois de um dia cansativo;
– Para ter sobre o que conversar (!);
– Para realizar a vontade de armar o barraco que a sociedade não permite que se faça;
– Para poder trabalhar o olhar julgador em personagens fictícios que não têm oportunidade de resposta;
– Para poder projetar o ódio reprimido dos algozes do passado;
– Para tentar preencher o vazio da vida;
A partir daqui as suposições começariam a ficar um pouco ousadas, então vamos ficar só com estas.
Se novelas e jogos de futebol são os líderes de audiência num país onde a televisão tem importância relevante na cultura, o que deduzir dos interesses desse povo? Não que assistir a esse tipo de programa seja um crime – às vezes é até necessário para dar uma descansada, uma socializada. Mas ter eles como o foco de nossas atenções é preocupante.
É automático ligar a TV na Globo, sintonizar no Jogo Aberto ou no Friends na hora do almoço. Mas não é nada natural estudar a coleção Os Pensadores por vontade própria, ou fazer uma autoanálise de alguns poucos minutos diariamente. É preciso esforço para ser uma mente relevante. Se é para poucos? Não – é para quem quer. A questão é que, aparentemente, poucos querem.
No fim das contas cada um faz o que bem entender da própria vida. (Quem sou eu para dizer se você deve ou não assistir a novelas enquanto tenho minhas próprias falhas de consciência a serem ajustadas?) Mas o que não podemos esquecer é que, numa sociedade, as vidas estão todas interligadas e se influenciam mutuamente. Logo, a alienação de um é problema de todos.
Sim, existem pessoas que lutam, se esforçam e se movimentam por assuntos de relevância política, social, ecológica, comunitária. Ao meu ver, a tendência é que esse tipo comportamento se torne cada vez mais frequente. O que eu me pergunto é até quando teremos que ver os chifres do Tufão liderar a audiência nacional.