Publicado originalmente no site SRzd
POR SIDNEY REZENDE
Por onde passei nos últimos 15 dias aqui e no exterior, ouvi relatos de pessoas em busca de explicações sobre as razões que estão levando brasileiros a buscar “refúgio” em outros países, principalmente Portugal e Estados Unidos. As pessoas querem saber se este êxodo teria motivações políticas. Em seguida, constrangidas, elas diziam que chama a atenção o nosso “grosseiro” comportamento. Um “estilo predador”, disse-me um deles.
Procurei saber detalhes do que exatamente incomodava estas pessoas. Elas dizem que falamos alto, somos arrogantes com garçons, atendentes, seguranças, além de furarmos filas, não cumprirmos horários, nem compromissos previamente acertados, atravessarmos fora da faixa de pedestres nas ruas e não pagarmos passagem nos transportes públicos. O que elas argumentam é que não entendem por que agimos assim, já que todos convivem com os problemas comuns da comunidade em que estão igualmente inseridos.
Já de retorno ao Brasil, esbarrei em relatos de conhecidos que diziam estar de malas prontas para Miami ou Lisboa, Cascais, Porto, e que não aguentavam mais a “bagunça” do nosso país. Eles reclamam da “desordem”, “das autoridades”, do “Temer”, do “Lula”, do “PT”, da “esquerda”, enfim, os alvos são múltiplos. Estas pessoas reconhecem que nossa “imagem lá fora” anda meio queimada. Tenho que reconhecer que estas pessoas “indignadas” têm posses ou reservas financeiras que lhes garantem uma permanência mais longa no exterior.
Este conjunto de pequenas histórias passou a martelar minha cabeça. O que está havendo? A gota d’água foi uma senhora portuguesa que disse para um amigo que os brasileiros “não tinham classe”. Ela praguejou outros impropérios que prefiro não repetir por vergonha.
Num determinado momento, eu não me contive e resolvi compartilhar este sentimento de surpresa frente à repetição de nossa falta de civilidade, com esta falta de respeito com os hábitos de países que abrigam novos imigrantes como nós.
Por isso, eu escrevi o post abaixo no Twitter e, para minha completa surpresa, “viralizou”.
Portugueses começam a ficar incomodados com a enxurrada de brasileiros endinheirados que estão trocando nosso país pelo deles. Eles dizem que são pessoas que se acham melhores do que as outras apesar de terem baixíssima cultura e civilidade. “Gente sem classe”, disse uma senhora.
Portugueses começam a ficar incomodados com a enxurrada de brasileiros endinheirados que estão trocando nosso país pelo deles. Eles dizem que são pessoas que se acham melhores do que as outras apesar de terem baixíssima cultura e civilidade. “Gente sem classe”, disse uma senhora.
— Sidney Rezende (@sidneyrezende) April 15, 2018
De cara, saltou para quase 8 mil curtidas, 2.800 retuítes e não param de entrar pessoas testemunhando as barbaridades que assistiram pessoalmente. Uma delas disse que portugueses estavam na fila de espera de um táxi, brasileiros furaram a fila e pegaram a veículo antes de todos. Os nativos reclamaram e os brasileiros fizeram gesto obsceno com os dedos. O taxista simplesmente parou o carro e pediu que os mal educados saltassem. Eles o fizeram e, a partir daí, se voltaram contra o motorista e o hostilizaram.
Dos inúmeros comentários disponíveis no post, existem várias outras reflexões sobre o que está acontecendo com aqueles que, cansados do Brasil, resolveram reconstruir suas vidas em outras terras no Velho Mundo.
Abaixo alguns comentários pinçados a esmo:
https://twitter.com/arteminhapaixao/status/985815469344088064
Moro na Flórida e os que chegam agora por aqui maioria com muito dinheiro e pouca empatia com os pobres. Coxinhas invadindo Tio Sam! Rs
— Luli (@LiuAlmeidao) April 16, 2018
https://twitter.com/renatansc/status/985820785557278720
https://twitter.com/pcazel/status/985925984452055040
Trabalhei pra brasileiros fora do Brasil. Realmente muitos são péssimos patrões. Mas tem muitos empreendedores que são bons patrões. Porque segue a risca as leis dos países em queestão investindo. Tem muita gente boa lá fora. Como experiência que vi, os ruins não ficam 5 anos.
— Rcesar53. (@Rcesar531) April 16, 2018
Espero que reflitamos o quanto alguns de nós não percebemos que estamos desconectados de um mundo onde o compartilhamento, a interatividade e o afeto entre os povos tornam-se importante como base para um entendimento entre os humanos. Estamos doentes e não percebemos nossos erros mais gritantes.