Por que o PSDB precisa de um reposicionamento

Atualizado em 13 de junho de 2013 às 17:37
Geisel (esq) convocou Figueiredo

 

Entendi, mas não compreendi.

A frase acima foi um dos bordões mais populares da televisão brasileira. Num programa cômico, uma pessoa fazia uma pergunta. O interlocutor respondia de uma forma confusa e prolixa. “Entendeu?”, dizia então o autor da explicação. “Entendi, mas não compreendi”, era a resposta do homem na dúvida.

Pois, daqui de Londres, entendi mas não compreendi a lógica por trás da candidatura de Serra, mais uma vez, à prefeitura de São Paulo. Primeiro, e antes de mais nada, Serra e o PSDB devem ter em baixa conta o eleitorado paulistano ao imaginar que vai passar em branco que, na última vez, ele abandonou a prefeitura para concorrer à presidência depois de ter garantido que não faria isso.

Mas acima de tudo.

Serra é o único nome do PSDB capaz de competir com Haddad, do PT? Só Serra é capaz de evitar que o PT tome a prefeitura de São Paulo? É isso que explica a candidatura? Se sim, o PSDB tem um problema monumental de obsolescência e falta de renovação. Sob esse ângulo, Serra estaria indo então, magnanimamente, para o sacrifício.

Como disse Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.

Na ditadura militar, entrou para a história uma declaração do general João Figueiredo. O presidente Ernesto Geisel o queria para sucessor. Figueiredo disse: “Convidado, recuso. Convocado, aceito.”

Serra prescinde convocações. Ele se autoconvida.

No dicionário da administração, você diz que um produto envelhecido precisa de um reposicionamento. O PSDB também. Tem que se reposicionar.

Qual a bandeira do PSDB, a missão? A do PT – gostemos ou não do partido – é clara: reduzir a desigualdade social no Brasil. O PT fala para os tais 99% consagrados no movimento Ocupe Wall Street. O PSDB está falando sozinho, ou está conversando apenas com o círculo de Serra, e por isso perdeu tanto espaço na política nacional.

Reposicionamento com Serra é um triunfo da esperança. Serra é o que é, um político modelo do século 20 deslocado no século 21 como uma sacola de plástico. Serra fez sentido na redemocratização do Brasil, mas isso ficou lá para trás. Permaneceu, em parte, o mito do “administrador”, mas mesmo isso exigirá dos historiadores uma análise mais profunda: que fez ele, efetivamente, como “administrador”?

Tempos novos demandam nova agenda, novos rostos. Serra tem que sair de cena para ar fresco entrar no PSDB — aliás o partido para o qual dei a maior parte de meus votos na vida adulta, e que enquanto teve o rosto de FHC, não o de Serra, tinha um projeto claro e interessante.

Não é tão difícil entender isso – e compreender.