O jornalismo de guerra que as grandes empresas utilizam contra tudo que possa ser associado a líderes e causas de esquerda se manifesta das mais diversas formas.
Às vezes, numa pergunta que não é feita.
Nesta semana, tivemos uma demonstração espetacular disso. Falo da coletiva que Serra deu sobre as eleições americanas.
A certa altura, Serra diz que numa democracia os resultados das urnas devem ser respeitados.
Serra dizer isso é apenas parte do problema, ele que contribuiu para o golpe que obliterou 54 milhões de votos.
Pior ainda é nenhum jornalista tê-lo interpelado. “Mas e no Brasil, chanceler?”
Virou algo tão comum este tipo de silêncio cúmplice e obsequioso que já nem reparamos nele. É a chamada chapa branca levada a seus mais extremos limites.
Algum dos jornalistas presentes se deu conta da pergunta que não foi feita? Ou estão todos já tão condicionados pelas redações em que trabalham que sequer repararam no crime antijornalismo que estava sendo cometido ali?
Fico com a segunda hipótese.
A única demonstração de estranhamento que vi, nas redes sociais, veio num tuíte na BBC Brasil. Foi sutil. A BBC deu a foto de Serra na coletiva e ilustrou-a com a frase infame.
O tuíte foi compartilhado centenas de vezes — algo raro para os padrões de repercussão da BBC.
Significa que as pessoas não são tão tolas quanto a mídia imagina.
Fico aqui pensando comigo que no futuro, quando o comportamento da imprensa no golpe for analisado já com alguma distância e serenidade, um capítulo do estudo vai ser dedicado à pergunta que não foi feita a Serra.
Porque, muito mais que uma questão convenientemente calada, trata-se de um símbolo agudo do jornalismo de guerra que nos reduziu a uma república de bananas.