Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé tem 55 anos, é pernambucano, formou-se em medicina na Bahia e, goste ele ou não, é um dos filhotes do curso de graduação em filosofia da Universidade de São Paulo.
Formou-se na USP em 1990, fez mestrado em filosofia contemporânea em 93, doutorado em 97 e pós-doutorado em 2000. Teve experiência de pesquisa em Sevilha, Tel Aviv e Paris. Recebeu orientação filosófica de um dos melhores professores da maior universidade pública do Brasil: Franklin Leopoldo e Silva.
Mesmo assim, em sua coluna na Folha, Pondé não poupa críticas pesadas ao meio universitário, impregnado, segundo ele, pelo pensamento de esquerda. Chamou professores doutores de cursos de pós-graduação de “ratazanas com PhD”. Afirmou também que a inclinação política à esquerda ignora a realidade humana, além de ser “mau-caráter” e “abstrata”.
Um dos maiores patrimônios é sua produção de pesquisas acadêmicas, e isso não se restringe ao campo das tão criticadas ciências humanas. No entanto, para Pondé, “a produção na universidade é industrial do tipo salsichas. Puro capitalismo chinês”.
Pondé publicou um texto revelador a respeito do que acha do meio universitário em 2012. “Nietzsche foi minha primeira paixão na faculdade de filosofia da USP. Na época, recém-saído da medicina e em formação para ser psicanalista, o que nunca aconteceu, eu colocava em diálogo Nietzsche e Freud”.
Ele parece se ressentir com sua segunda graduação por não ter permitido que colocasse seus dois pensadores favoritos em contato. Esse ódio parece ter evoluído até sua pós-graduação. Pondé utiliza sua coluna para atacar a forma tradicional de se ensinar filosofia ou qualquer ciência humana.
Ele deixa de lado qualquer compromisso com o rigor das informações que compartilha. Falsamente acusa o pensador franco-suíço Jean-Jacques Rousseau de ter começado o “pensamento popular” que daria origem ao marxismo, afirmando que o conceito de “bom selvagem” atribui a culpa à sociedade e não ao indivíduo.
Um estudante de graduação em filosofia como eu seria capaz de apontar que o contratualismo de Rousseau nada tem a ver com a crítica ao capitalismo de Karl Marx. O Contrato Social não prevê um conflito de classes e nem o desenvolvimento de uma sociedade descrita no texto do Manifesto Comunista de Marx. Trata-se, portanto, de uma aberração conceitual construída pelas associações levianas de Pondé.
Seria como apontar o grego Aristóteles como culpado pelos estudos de São Tomás de Aquino durante a Idade Média. Não faz muito sentido. Como nem todo mundo estuda a área, as besteiras de Pondé são saudadas como “grandes sacadas” por alguns. “Filosofia” pura.
Em 2001, como parte de seu doutorado na USP, ele lançou “O Homem Insuficiente – Comentários de Antropologia Pascaliana”, em que analisa de maneira interessante o desenvolvimento do catolicismo francês sob influência da sociedade laica e iluminista. O livro foi elogiado no meio acadêmico.
Em 2012, publicou “O Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”. Entre outras coisas, Pondé acusa o cidadão classe média consciente com a causa indígena de serem “índios do bairro de Perdizes”. Ele próprio faz parte do mesmo extrato social e mora no mesmo bairro, mas a culpa é sempre dos outros.
No pensamento de direita, ele não tem a elegância, por exemplo, de um José Arthur Giannotti, que ainda atua na Universidade de São Paulo e preza pelo rigor dos conhecimentos filosóficos. O destempero o coloca ao lado de Olavo de Carvalho, reacionário lelé conhecido por ter criado o curso de extensão universitária em astrologia na PUC e que hoje controla e mente de Lobão (e vice-versa, tanto faz).
Luiz Felipe Pondé ainda dá aulas na PUC-SP e na FAAP. É de se perguntar: Como alguém que despreza o meio acadêmico dá aula em faculdades? É só para pagar contas? Será que ele hostiliza alunos que aparecem com camisetas do Che Guevara? Faria “paredão intelectual” por causa disso? Seus estudantes não se incomodam com o fato de ele classificar as pessoas da academia de “ratos” e “ratazanas”?
Seus textos mais atuais jogam anos de pesquisas no lixo e o transformaram num personagem muito distante da realidade. Ele age tal como seu texto sobre a “direita festiva”, que reclama dos esquerdistas que “pegam mais mulheres”. Pondé, o filho da USP, é um fenômeno do ressentimento e da falta de compromisso intelectual do reacionarismo.