Dois fatos nos últimos dias relacionados à Venezuela merecem a atenção.
Na semana passada, o cidadão brasileiro Jonatan Moisés Diniz, que mora nos Estados Unidos, foi preso no país vizinho sob a acusação de agir para desestabilizar o governo de Nicolás Maduro.
Seus parentes, ONGs de direita e postagens dele próprio no Facebook dão conta que fazia um trabalho social.
Queria, principalmente, distribuir brinquedos para crianças e pediu doações pela rede social, com pouca repercussão.
Há poucas informações sobre a conduta que levou Diniz à prisão, mas não se pode dizer que seja, exatamente, um pacifista.
Antes de se converter para o trabalho social, ele postava mensagens na rede incentivando as pessoas a se revoltarem contra Maduro e escrevia coisas como: “Se é para cairmos, que caiamos pra frente!!! Guerra civil Mode ON! Maduro, tua hora vai chegar, seu FDP!”
Existem crianças pobres em toda parte do mundo — o Brasil, infelizmente, tem muitas delas. O Haiti é outro exemplo gritante. Mas Jonatan escolheu a Venezuela. Direito dele, mas soa estranho, já que defende, publicamente, guerra civil contra o governo de lá.
Também é estranho que a Folha tenha publicado ontem o artigo do ex-ministro do Planejamento da Venezuela Ricardo Hausmann, diretor do centros de estudos internacionais de desenvolvimento da Universidade de Harvard, em que defende ação militar dos países vizinhos para derrubar Nicolás Maduro.
Uma sandice, ideia rechaçada até pelo governo do Brasil.
Nas redes sociais, os ativistas de direita, como Janaína Paschoal e os mercenários do MBL, têm feito campanha pela intervenção do governo brasileiro em favor de Jonatan Diniz — não defendem intervenção militar (ainda).
Comparam a prisão dele com a de Marco Archer na Indonésia, ambos nascidos em Santa Catarina, Archer fuzilado por tráfico de drogas.
O Brasil pediu clemência ao governo da Indonésia, depois de dez anos preso.
Mas não teria feito o mesmo com Diniz.
Ao que se sabe, ele não foi condenado à morte.
Mas é claro que o governo brasileiro deve, sim, acompanhar o caso de Diniz e prestar assistência jurídica, sem que isso signifique endosso a eventuais atividades consideradas ilegais na Venezuela.
O mais importante aqui é tentar entender o que a militância de Diniz e o artigo do político venezuelano (que encontrou espaço na Folha) sugerem:
Por que tanta obsessão com a Venezuela?
Diz o ditado que jabuti não sobe em árvore. Mas ele está lá e, se está, alguém o colocou.