O que realmente incomoda na decisão de Temer de vetar publicidade federal nos sites independentes como o DCM é o grau de hipocrisia e descaro de seus argumentos.
Dizer que estes sites, classificados como “políticos”, não têm “interesse público” é tratar a sociedade como um amontoado de imbecis.
Se Temer ousou até romper unilateralmente contratos publicitários com tais sites, uma coisa horrível que a direita vivia dizendo que Lula faria assim que eleito, devia ao menos ter a coragem, a hombridade, a decência de dizer as razões reais.
Elas podem ser resumidas nisso: os sites atingidos são progressistas. Defendem uma visão de mundo nada parecida com a pregada pela mídia tradicional, da Veja à Globo, da Folha ao Estadão. Querem uma sociedade menos injusta, menos manchada por extremos de opulência e de miséria.
Estes sites representem uma parcela expressiva dos brasileiros. Apenas o DCM tem 4 milhões de visitantes únicos por mês. As visualizações estão na casa dos 15 milhões mensais. Em meses mais quentes, já passaram de 20 milhões.
Outros sites são igualmente expressivos, como o Conversa Afiada de Paulo Henrique Amoim, o GGN de Luís Nassif, o 247 de Leonardo Attuch, a Fórum de Renato Rovai, o Tijolaço de Fernando Brito, a Carta Maior de Joaquim Palhares e o Cafezinho de Miguel do Rosário.
Somados, os principais sites progressistas têm cerca de 40 milhões de acessos mensais e 20 milhões de visitantes únicos. É um público que rejeita visceralmente Globo, Abril, Folha, Estado e coisas do gênero.
E é um público que consome — é objeto de atenção, portanto, dos anunciantes, estatais ou não.
Dizer que os sites progressistas são destituídos de interesse público é um insulto a milhões de brasileiros que os leem em busca de algo que não encontram na mídia convencional.
O que Temer está fazendo é tentando, a serviço da plutocracia, suprimir a difusão de ideias que não sejam as que agradam ao chamado 1%.
Há mentiras abjetas neste debate.
Uma delas, propagada pelos comentaristas fâmulos da mídia corporativa, é que são “sites petistas”. Se a Justiça brasileira funcionasse, este tipo de calúnia custaria caro a seus autores.
O DCM, para ficar num caso, jamais teve vínculo nenhum com o PT. Nasceu de um projeto que concebi em Londres, ao entender que havia espaço para um site “escandinavo” no Brasil — um veículo para mostrar que não há motivos para sermos um país tão socialmente injusto. A missão do DCM foi concebida nas sucessivas visitas que fiz à Escandinávia em minha longa temporada de correspondente na Europa.
Chamar os sites progressistas de sites petistas é uma tentativa espúria de desqualificá-los.
A questão da publicidade estatal na era Temer fica ainda mais dramática diante das notícias de que os sites evangélicos poderão receber dinheiro de Brasília.
Sites evangélicos são de interesse público, segundo esta lógica. Mas sites progressistas não. É um argumento que simplesmente não se sustenta.
Lembre-se, sempre, que as corporações jornalísticas sempre foram beneficiadas por bilhões de reais em propaganda federal — uma mamata inominável em que lamentavelmente nem Lula e nem Dilma mexeram.
Verifique a escala das coisas. Apenas a Globo — falamos só da tevê, não das demais mídias dos Marinhos — vem recebendo 600 milhões de reais por ano de publicidade do governo federal.
Todos os sites progressistas em conjunto receberiam 11 milhões de reais em 2016 — se Temer não rompesse unilateralmente os contratos. É uma miséria, uma insignificância — uma cifra 60 vezes menor que a fatia da TV Globo com suas audiências que despencam a cada dia.
A vontade da plutocracia é exterminar os sites progressistas. Isso não vai acontecer — porque o mercado os quer vivos. Eles têm audiência, e isso se traduz em receitas cada vez maiores de uma coisa chamada publicidade programática.
A publicidade programática é um mecanismo cada vez mais usada por grandes anunciantes: eles compram audiência, e isto os sites progressistas têm em quantidade cada vez maior.
A publicidade programática é capaz de, por si só, financiar os sites progressistas.
Temer sonha nos matar a todos. Mas fracassará também nisso — inapelavelmente.