Odiado por muitos, amado por outros tantos, Finkelstein é um intelectual que faz você pensar
Você pode pensar muitas coisas sobre Norman Finkelstein, judeu americano de 59 anos.
Você pode achar que ele é radical em sua defesa da Palestina e dos palestinos diante dos ataques de Israel. Você pode considerar que ele mina os próprios argumentos com uma retórica demasiadamente explosiva. Você pode supor que haja nele alguma coisa autodestrutiva. Você pode até suspeitar que ele odeie a si próprio por ser judeu.
Você só não pode fazer uma coisa: ignorá-lo.
Finkelstein é um acadêmico e palestrante obcecado com a causa palestina. Seus pais enfrentaram campos de concentração nazistas. A mãe, segundo ele, jamais superou a experiência. “A conversa podia girar em torno de petúnia, e de repente ela dizia que tinha enfim entendido algo que ocorrera naqueles dias”, diz Finkelstein.
Mas Finkelstein acha que é melhor olhar para o presente do que para o passado. Ele prefere falar da Palestina de agora a discorrer sobre o Holocausto de décadas atrás. A idéia essencial de Finkelstein é que o Holocausto — que ele não nega, evidentemente — é usado para justificar a violência de Israel contra os palestinos. Essa tese o faz ser abominado pela ala conservadora da comunidade judaica.
Em 2010, ele publicou um livro sobre as relações entre Israel e os palestinos. O nome diz tudo: “Desta vez, fomos longe demais”. Finkenstein se referia ao brutal ataque de Israel a Gaza em 2009. Não me consta que o livro tenha sido lançado no Brasil, e é uma pena. O capítulo 5 narra suas visitas a Gaza. “Para preservar o sentido de meu propósito, e evitar que a luta palestina se torne para mim uma abstração sem vida, periodicamente recarrego minhas baterias morais me reconectando com as pessoas que vivem sob ocupação e testemunhando, ao vivo, uma tragédia sem fim”, escreveu ele.
Finkenstein, no mesmo capítulo, fala de seu contato com jovens integrantes do Hamas, o grupo fundamentalista palestino que controla Gaza e não reconhece Israel. Afirmou ele: “Ao me despedir deles, comovido, me senti na obrigação de dizer publicamente que na minha opinião nenhum deles merece a morte que Israel tenta infligir a cada um. Sei que de acordo com as “leis de guerra” eles são alvos militares “legítimos”. Mas num mundo guiado pela razão “leis de guerra” fariam tanto sentido quanto “etiqueta dos canibais”. (…) Por convicção, frustração ou tormento, aqueles homens jovens decidiram defender sua terra contra os invasores armados. Se eu vivesse em Gaza, e fosse jovem, e tivesse coragem suficiente, poderia facilmente ser um deles.”
Filkenstein pode ser bruto e grosseiro na defesa de suas ideias. Numa palestra, uma jovem fez a ele uma pergunta. Chorando, ela disse que se sentia ofendida pelas referências negativas feitas a Israel, e citou o Holocausto. “Não respeito essas lágrimas e nem me deixo intimidar por elas”, respondeu Finkelstein. “Se você tem coração, deveria estar chorando pelos palestinos.”
Posto, junto com este texto, o vídeo de um documentário sobre ele. As legendas foram feitas num português precário, mas não importa.
Recomendo que vejam o vídeo. Quanto suportarem. Cinco minutos que sejam.
Porque Finkelstein é aquele tipo de gente rara e brava que faz você pensar — ainda que ao final você possa destestá-lo.