Sábado, em Wimbledon, vejo caminhar perto de mim um apresentador de tênis da BBC. Gosto dele. Moderou brilhantemente os comentários de gente como McEnroe, Boris Becker e Tim Henman num programa diário sobre cada rodada de Wimbledon.
Me aproximo dele.
“E amanhã?”, pergunto.
Os britânicos estavam mesmerizados. No dia seguinte, Murray faria a final contra Federer. Pela primeira vez em 76 anos, um britânico era finalista. A atmosfera era de Copa do Mundo no Reino Unido.
“Espero que o vitorioso seja o Murray ganhe, mas temo que será o Federer”, diz o jornalista da BBC.
Cumprimentei-o pela competência com que faz seu trabalho e pensei comigo: “Murray só se o Sobrenatural de Almeida comparecer”.
Mas SA estava descansando depois da estafante tarefa de levar o Corinthians ao titulo da Libertadores.
E Federer pôde, com relativo sossego, ganhar seu 17.o título de um “major”, como os ingleses se referem aos quatro grandes torneios de tênis: Wimbledon, Roland Garros, Aberto dos Estados Unidos e Aberto da Austrália. É um recorde absoluto. Fora isso, a um mês de fazer 31 anos, uma idade em que no tênis você é um sexagenário, Federer voltou a ser número 1.
Eu estava em Wimbledon, modéstia à parte. Erika e eu, ela claramente a favor de Murray, por ver o quanto sua vitória representava para os britânicos. Eu, discretamente, estava com Federer, em quem vejo um grande modelo masculino de comportamento. Mas fiquei tão tocado com a torcida por Murray que não me teria importado se ele vencesse.
Federer é Federer. Faz o tênis parecer fácil. Nisso se distingue de Nadal, em cujo rosto você o esforço épico que ele faz para ser o vencedor que é. Ontem, Murray parecia saído de um corredor polonês depois do jogo. Federer parecia ter acabado de sair do banho e estar pronto para passear com a mulher e as duas filhinhas gêmeas.
Mas o que mais me impressionou na final foi a Fila, a lendária “The Queue”, onde as pessoas se concentram para encontrar ingressos baratos.
Choveu a noite toda em Londres na madrugada do jogo, e a turma da fila não se abalou.
Uma hora antes do jogo, um funcionário do torneio avisou à turma: “O jogo vai ter acabado quando vocês conseguirem chegar à bilheteria. Há telões em pubs, ou então o melhor é ver em casa mesmo.”
Encerrada a partida, fui dar uma olhada na Queue. Ainda havia muita gente na fila.
Já vi muita coisa esquisita na vida, mas aquela cena era particularmente intrigante. Fui perguntar para um rapaz o que ele estava fazendo ali.
“Já terminou o jogo”, disse. “Por que você está aqui?”
Ele respondeu, sem hesitar: “Por causa da atmosfera.”
Jamais vou encontrar algo que defina tão bem o fascínio que Wimbledon exerce sobre as pessoas como a resposta do rapaz da fila que, como tantos outros, queria simplesmente rodar pelo complexo de Wimbledon para sorver, ainda que depois do torneio, “sua atmosfera”.