Originalmente publicado por BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
A direita e a extrema direita enganaram a própria base sobre o tempo de duração de seus protagonistas. Trump não vai se reeleger, ao contrário dos três presidentes que o antecederam.
Trump vai durar quatro anos. Mauricio Macri também durou esse tempo na Argentina. Até Juan Guaidó durou poucos meses como aprendiz de golpista na Venezuela.
No Chile, Sebastião Piñera está sob a ameaça de cair, pela pressão das ruas, desde que assumiu. E só não caiu por causa da pandemia.
Na Bolívia, a direita que golpeou Evo Morales será corrida do governo um ano depois. Será rejeitada pelo voto.
Figuras nacionais que ajudaram o bolsonarismo a crescer estão com prazo de validade esgotado. Sergio Moro e Deltan Dallagnol já saíram de catálogo.
Toda a direita tucana golpista, de Aécio a Serra, passando por Alckmin e Fernando Henrique, está na lona. A direita do século 21, que em muitos casos caminhou para a extrema direita, parecia ter, mas não tem tanto fôlego.
Bolsonaro já desempenhou vários personagens e vai ganhando sobrevidas. Eleito, iria mandar matar os inimigos políticos e trataria o Congresso com desprezo.
Depois, inseguro, com os garotos cercados, passou a blefar com o golpe contra o Supremo, apoiado por seus generais e pelos soldados de Sara Winter.
Sem chance de viabilizar o golpe, começou a falar baixo e se aproximou do Supremo e do Congresso, buscando colo no que existe de pior em Brasília. E assim vai indo, comprando e alugando apoios.
Bolsonaro não é um Trump, porque não tem a estrutura do maior partido conservador do mundo a protegê-lo, mesmo que sem muita convicção. Mas tem vantagens.
A primeira talvez seja a trincheira militar que o protege até no projeto de destruição da Amazônia. Uma outra vantagem: Bolsonaro é uma família e tem os filhos como aliados, todos eleitos.
Eles têm a garantia e o charme do voto, foram escolhidos. Não com meia dúzia, mas com milhões de votos. Os filhos já fizeram com que o pai mandasse para casa sete generais do primeiro escalão do governo.
Essa é a família que pode servir como prova, em qualquer conferência mundial, da facilidade com que um pai, três filhos, militares e aliados milicianos sequestram o poder pelas vias da democracia.
E de como podem construir um projeto de destruição da democracia que os acolheu. Bolsonaro e os filhos são figuras exemplares das aberrações da democracia.
Os americanos saberão o que fazer com Trump na eleição. Nós teremos de esperar até 2022, e mesmo assim sem saber direito se seremos capazes de nos livrar não só de Bolsonaro, mas da família toda.
É certo que, se Bolsonaro cair, os garotos caem junto. Carluxo pode continuar sendo vereador, mas voltará a ser apenas o primo do Índio.
Flavio será o sócio de Queiroz e Eduardo Bolsonaro será o ex-futuro líder da direita na América Latina.
Todos têm problemas sérios com a Justiça, com as rachadinhas, a lavagem de dinheiro, a fábrica de fake news no Gabinete do Ódio e a organização e patrocínio dos atos pró-golpe, entre outros crimes.
Mas não é daí que sairá alguma coisa contra eles. Os Bolsonaros terão de ser derrotados politicamente pela democracia que vai derrotar Trump. Não tem outro jeito.
E Trump derrotado, e abandonado pelos republicanos, significará Bolsonaro fragilizado e certamente depois também abandonado pela direita que o sustenta até agora só por causa das ‘reformas’.
O prazo de validade de Bolsonaro talvez se esgote antes da eleição, apesar dos amigos e dos abraços conquistados recentemente no Congresso e no Supremo.
E, sem validade, será descartado. A direita brasileira sabe muito bem o que fazer com os seus que fracassam.