Precisamos nos reconectar com o povo. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 23 de janeiro de 2020 às 8:15
3º Tsunami da Educação em São Paulo, 13 de agosto.
Foto: @chokitojor / @midianinja

Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor

PRECISAMOS NOS RECONECTAR COM O POVO

ESTOU FAZENDO UMA PESQUISA sobre populismo. Comprei um belo livro em Buenos Aires, de Alejandro Grimson, cientista político que fez seu doutorado na UnB. O trecho a seguir vem a calhar no debate sobre rumos da esquerda. Ao priorizarmos enfrentamentos na superestrutura e perdermos a sensibilidade para a vida real e concreta das pessoas, deixamos de disputar hegemonia e o fascismo pode nadar de braçada. Eles não operam na lógica cartesiana. Neste momento, a oposição deveria ser muito concreta e mais sensível às dores e angústias de nosso povo. Acompanhemos Grimson:

“HÁ UM ERRO TEÓRICO fatal ao se examinar os grandes processos revolucionários como ações em que os povos querem impor uma concepção de sociedade em termos ideológicos. As grandes revoluções do século XX, como a russa, a chinesa ou a cubana nunca tiveram para as massas populares motivações abstratas, mas aquelas ligadas a urgências cotidianas.
(…)
OS PROCESSOS REVOLUCIONÁRIOS logram atrair apoios quando se articulam em termos simples e vinculados com as necessidades das pessoas. Por exemplo, na Rússia de 1917, os sovietes e o partido bolchevique apelavam por “paz, pão e terra” e não ao comunismo internacional. Eram demandas elementares que, naquela conjuntura, só parecem possíveis através de uma revolução. A superideologização pode gerar a crença de que a Revolução Russa de fez para se fundar a III Internacional e a revolução mundial. Na verdade, os bolcheviques triunfaram em 1917 porque ofereciam a melhor ou a única alternativa para os problemas específicos do povo”

(ALEJANDRO GRIMSON, “Que és el peronismo?” Siglo XXI, Buenos Aires, 2019, pág. 228)