Precisamos saber mais da lavagem de dinheiro dos Bolsonaros. Por Moisés Mendes

Atualizado em 31 de agosto de 2022 às 14:59
Foto: Reprodução

Os repórteres Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, do UOL, trabalharam durante sete meses para mostrar ontem, com provas, o esquema milionário de lavagem de dinheiro da família Bolsonaro na compra de imóveis.

Mas o UOL cometeu um dos erros primários do jornalismo quando da divulgação de reportagens exclusivas e de alto impacto.

Não há, no dia seguinte, o que as redações chamam geralmente de suíte. É a abordagem, de preferência em manchete, da mesma pauta com novas informações.

Muitas vezes as informações desse repique são de fatos já apurados. O jornal guarda a suíte, para ter o que dizer no dia seguinte, mantendo a relevância do assunto.

É interessante o debate entre repórteres e editores sobre o que deve ser preservado para o dia seguinte. Guarda ou publica?

Há casos em que a suíte é mais impactante do que a reportagem original. Mas o UOL não tem nada de muito importante para mostrar hoje, pelo menos até agora.

O jornalismo vive

O que importa é que o jornalismo respira. A reportagem de Thiago Herdy e Juliana Dal Piva tem o fôlego de trabalhos históricos sobre grandes rolos.

Para descobrir que a família usou R$ 25,6 milhões em dinheiro vivo para comprar 51 imóveis, o UOL examinou 1.105 páginas de 270 documentos relacionados às transações imobiliárias realizadas por integrantes do clã desde os anos 1990.

Depois do levantamento, a reportagem visitou as cidades com maior número de imóveis da família. Conversou com alguns dos personagens envolvidos nas transações, inclusive os vendedores de imóveis.

O UOL informa que, além dos documentos de cartório, o levantamento também considera as informações sobre os imóveis que constam de investigações e processos judiciais que trataram de bens da família Bolsonaro, realizadas nos últimos anos.

É lavagem em cima de lavagem. Os dados colhidos foram compilados em uma planilha de Excel. Neste arquivo estão detalhadas informações como localização, data, condições de pagamentos e observações diversas a respeito das transações.

O UOL teve a paciência que o jornalismo não tem mais, ao permitir que os repórteres se dedicassem ao desvendamento dos rolos com imóveis durante sete meses.

A questão agora é a mais elementar: o que Ministério Público e Justiça farão com as informações do UOL sobre a lavagem milionária de dinheiro da família Bolsonaro?

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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