A eleição americana nos empurra para um longo período insônia. Tudo pode acontecer a partir dessa terça-feira e talvez até a semana que vem, com desdobramentos por muito tempo.
Na capa, o The New York Times resumiu assim, nessa segunda-feira, o que é o enfrentamento Kamala X Trump: essa não é uma batalha apenas política, é uma guerra existencial.
E que guerra. Primeiro, pode acontecer lá o que Bolsonaro planejou para o Brasil, quando lutou pela farsa da adoção do voto impresso.
Pode acontecer lá, no sistema de votação e apuração pré-histórico que direita e extrema direita se negam a mudar, o caos que Bolsonaro queria disseminar aqui.
Bolsonaro imaginou que a adoção do voto impresso, como certificado complementar ao voto eletrônico, provocaria uma confusão incontrolável. Porque o fascismo levantaria a dúvida e iria disseminar que os resultados das urnas e do papel não eram os mesmos.
A apuração nos Estados Unidos pode descambar para o caos a partir do momento em que a apuração, iniciando com vitória de Trump, como hipótese a ser considerada, passar a mostrar a reação de Kamala. Por vários motivos, isso pode acontecer.
E aí a contestação não acontecerá só depois da eleição, mas durante a apuração e de forma violenta. Estão previstos, sem exageros, situações em que a apuração em determinados lugares poderá ser bagunçada por ativistas da extrema direita.
É provável, sem nenhum catastrofismo, que apurações sejam empasteladas, com o sequestro de cédulas. Esses votos nunca mais seriam conhecidos.
Tudo é provável e possível. E não só a judicialização de resultados, o que seria o menos grave. Extremistas que invadiram o Capitólio poderão invadir qualquer local em que são feitas as contagens.
Podem provocar, em várias cidades, o caos que há muito tempo a extrema direita imagina como a destruição ideal. Se a apuração se estender por dias ou por mais de uma semana, com os dois candidatos com chance de vitória, poderemos nos preparar para o pior.
A democracia americana tem a chance de mostrar de novo, e agora como seu grande espetáculo, que é uma das mais disfuncionais no mundo todo. É arcaica, atrapalhada, manipulada e preservada para manter o poder da direita.
Os americanos contam votos como os brasileiros contavam há quase 30 anos. Em 2020, Trump tentou manipular os resultados porque a contagem na Georgia levou cinco dias.
Outra previsão fácil de fazer, para que o terror se complete: se Trump for eleito, o Judiciário brasileiro será cercado pelos fascistas, porque é da Justiça que todos dependemos para que os golpistas graúdos, e não só os manés da invasão do 8 de janeiro, sejam punidos.
Teremos pressões dos americanos, do fascismo brasileiro e de todos os fascistas mundiais para que deixem Bolsonaro e os golpistas em paz.
Poderemos ter, se isso ocorrer, um ambiente semelhante ou pior do que os dos piores momentos da ditadura. A guerra existencial dos americanos também é uma guerra nossa.
Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes