O Brasil teve, na era moderna, dois presidentes acidentais.
Um deles foi Sarney, um vice que ascendeu graças à morte de Tancredo Neves poucos dias antes de tomar posse.
O outro foi Itamar Franco, morto no final de semana. Itamar era vice de Collor quando este foi demitido da presidência por conduta imprópria.
Ambos eram clássicos vices – inexpressivos, nascidos para ser coadjuvantes. No Brasil, vice é como segundo colocado no futebol: não quer dizer nada.
Mas a trajetória de ambos não poderia ter sido mais diferente.
Sarney foi um pesadelo. Indeciso, fraco, parecia esmagado pelas responsabilidades. Em sua administração, os brasileiros enfrentaram uma inflação que chegou a 80% ao mês. Os jovens brasileiros não fazem idéia do que seja viver assim. Mal chegava o salário você tinha que aplicar em alguma coisa que protegesse o dinheiro da corrosão. O desperdício de energia colocada nisso era imenso.
E as empresas não conseguiam planejar nada eficazmente. Não surpreende que os anos 80, sob o domínio da hiperinflação, tenham se tornado conhecidos como “Década Perdida”.
Itamar passa para a história pelo outro lado. Em sua gestão surgiu o Plano Real e, com ele, a sonhada estabilização. O Brasil pôde voltar a crescer, sem a inflação descontrolada de tantos anos. Os brasileiros se livraram de uma dor de cabeça diária, a proteção de um dinheiro que no dia seguinte já valia menos.
O mérito do Real foi menos de Itamar do que de um ministro seu que tinha todas as características de um estadista: Fernando Henrique Cardoso. A história reconheceria – merecidamente — em FHC o “Pai do Real”.
Itamar jamais pareceu confortável com isso.
Pai do real ele não foi mesmo.
Mas foi um amigo, um incentivador, um protetor – o que não é pouco.