Publicado originalmente em RFI:
O presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, acusou nesta segunda-feira (12) o governo dos Estados Unidos de seguir “uma política de sufocamento econômico para provocar agitações sociais” na ilha, em reação a protestos históricos que tomaram Cuba neste domingo (11). O presidente americano, Joe Biden, por outro lado, o motivou a “ouvir seu povo”.
Em discurso transmitido por rádio e televisão, o líder comunista, rodeado por diversos de seus ministros, garantiu que seu governo está tentando “enfrentar e superar” as dificuldades face às sanções americanas, reforçadas desde o mandato do presidente americano Donald Trump (2017-2021).
“O que procuram? Provocar agitação social, causar mal-entendidos” entre os cubanos, mas também “a famosa mudança de regime”, denunciou o presidente cubano. Os responsáveis pelas manifestações “tiveram a resposta que mereciam e continuarão a ter, como na Venezuela”, grande aliada de Cuba, acrescentou.
Em um comunicado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu que “o regime cubano ouça seu povo e responda às suas necessidades”. “Apoiamos o povo cubano e seu vibrante apelo à liberdade”, acrescentou.
A internet móvel, que chegou a Cuba no final de 2018 e permitiu a transmissão ao vivo de cerca de 40 protestos antigoverno em toda a ilha no domingo, foi cortada na manhã desta segunda-feira. As ruas de Havana ainda são patrulhadas pela polícia e pelo exército, destacaram os jornalistas da AFP, mas a calma voltou às ruas depois dos confrontos do dia anterior, que levaram a dezenas de prisões.
Cidade do México oferece ajuda
Sobrecarregados pela crise econômica que agravou a escassez de alimentos e medicamentos, e que obrigou o governo a cortar a eletricidade por muitas horas por dia, milhares de cubanos espontaneamente saíram às ruas neste domingo em dezenas de cidades e vilarejos em todo o país, aos gritos de “Temos fome”, “Liberdade” e “Abaixo a ditadura”. Uma mobilização sem precedentes em Cuba, onde as únicas reuniões autorizadas são geralmente as do Partido Comunista (PCC).
Ao mesmo tempo em que reconheceu a “insatisfação” que alguns cubanos podem sentir, Miguel Diaz-Canel também deu aos revolucionários “a ordem de combater” essas manifestações de rua.
Grande apoiadora das autoridades cubanas desde os tempos soviéticos, a Rússia alertou nesta segunda-feira contra qualquer “interferência estrangeira” nesta crise. “Consideramos inaceitável qualquer interferência estrangeira nos assuntos internos de um estado soberano e qualquer outra ação destrutiva que promova a desestabilização da situação na ilha”, declarou o Ministério das Relações Exteriores russo em um comunicado.
“Estamos convencidos de que as autoridades cubanas estão tomando todas as medidas necessárias para restaurar a ordem pública, no interesse dos cidadãos do país”, acrescentou Moscou, afirmando “acompanhar de perto a evolução da situação em Cuba e nos arredores”.
O presidente mexicano, Andrés Manuel Lopez Obrador, rejeitou qualquer abordagem “intervencionista” da situação em Cuba e se ofereceu para enviar ajuda humanitária. O México pode “ajudar fornecendo medicamentos, vacinas, o que for necessário, além de alimentos, pois saúde e alimentação são direitos humanos básicos”, que não requerem “gestão política intervencionista”, declarou o líder de esquerda.
“Bloqueio genocida”
Na noite de domingo, o governo dos Estados Unidos advertiu que “condenaria veementemente qualquer ato de violência ou que vise a manifestantes pacíficos que exerçam seus direitos universais”, de acordo com um tuíte do assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan.
“O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca não tem autoridade política ou moral para falar sobre Cuba”, reagiu o chanceler cubano Bruno Rodriguez no Twitter nesta segunda-feira. “Seu governo gastou centenas de milhões de dólares para a subversão em nosso país e está impondo um bloqueio genocida, principal causa das deficiências econômicas”, acrescentou.
As relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos, após uma breve reconciliação entre 2014 e 2016, estão em seu ponto mais baixo desde a gestão de Donald Trump, que reforçou o embargo em vigor desde 1962, denunciando violações de direitos humanos e apoio de Havana ao governo de Nicolas Maduro, na Venezuela.
Essas sanções, assim como a ausência de turistas devido à pandemia de Covid-19, mergulharam Cuba em uma profunda crise econômica e geraram forte inquietação social, seguida de perto por Washington e pelo continente americano.
Os protestos também ocorreram em um cenário de forte aumento de casos de coronavírus na ilha. Ao todo, Cuba soma oficialmente supostos 238.491 casos, incluindo 1.537 mortes, para 11,2 milhões de habitantes. Situação que tem levado muitos cubanos a usar a hashtag #SOSCuba nas redes sociais, para pressionar que a ajuda humanitária externa seja autorizada pelo governo.