Nesta quinta-feira (23), o presidente da Enel no Brasil, Nicola Cotugno, deixou o cargo, anunciando sua aposentadoria aos 61 anos. Antonio Scala, executivo com 18 anos de experiência na empresa, foi indicado como o novo presidente. A mudança ocorre 20 dias após uma tempestade deixar milhares de moradores sem luz na Grande São Paulo por uma semana.
A Enel enfrenta duas CPIs, uma na Assembleia Legislativa (Alesp) e outra na Câmara Municipal, devido aos problemas decorrentes da tempestade. Cotugno, que já depôs na Comissão estadual, deveria ter saído em outubro, mas permaneceu para garantir a transição com seu sucessor.
“A saída de Cotugno foi definida em reuniões de Conselho das distribuidoras e da Enel Brasil em outubro. Para apoiar o processo de substituição e as recentes contingências, o executivo prorrogou a sua saída para 22 de novembro”, afirmou a empresa em nota.
Poucos dias após o apagão, em 7 de novembro, quando milhares de paulistas ainda aguardava o reabastecimento de energia em suas casas, Cotugno defendeu, em entrevista à Folha de S.Paulo, que a empresa, “se olharmos de uma forma racional e não emocional, está fazendo um trabalho incrível por um fenômeno pelo qual não teve controle”.
O Procon de São Paulo aplicou uma multa de R$12,7 milhões à Enel devido ao não fornecimento de energia após o temporal de 3 de novembro. O órgão constatou que muitos consumidores ficaram sem eletricidade por mais de 48 horas.
A infração resultou na multa máxima prevista no Código de Defesa do Consumidor. O presidente do Procon, Fernando Capez, destacou que a penalidade é justificada pela extensão do problema e pela ausência de ações efetivas da empresa italiana.
A Enel atua em 30 países, incluindo Estados Unidos, Canadá e Espanha. No Brasil, a empresa atende em três estados: Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo. No estado paulista, a multinacional, que chegou em 2018, assumiu a Eletropaulo Metropolitana, comprometendo-se a investir R$3,1 bilhões entre 2019 e 2021. Contudo, o Sindicato dos Eletricitários afirma que o investimento foi 10% menor do que o anunciado.
Desde que concluiu o processo de privatização, houve uma redução de quase 36% no quadro de funcionários da Enel. Em 2019, a empresa contava com 23.835 funcionários e colaboradores, incluindo profissionais contratados pela empresa e terceirizados que vieram da antiga Eletropaulo. Já no final de setembro de 2023, a concessionária tinha 15.366 profissionais, uma diminuição de 35,5% em quatro anos.
A área de atuação da Enel-SP abrange 24 municípios, atendendo cerca de 7,7 milhões de imóveis. Após o temporal, 27% ficaram sem energia. A empresa tem sido alvo de críticas devido à terceirização de trabalhadores, queda na qualidade dos serviços e falta de investimentos.
A avaliação da Enel-SP pela Aneel em 2022 foi a pior entre as concessionárias do estado. Apesar disso, seus resultados financeiros mostram um lucro líquido de R$1,113 bilhão nos nove primeiros meses de 2023, um aumento de 28,1% em relação a 2022. A dívida líquida da empresa é de R$6,21 bilhões, com uma redução de 4,11% em relação ao mesmo período do ano anterior.