Por Bruno Versolato
A advogada Bruna Morato, representante dos médicos que denunciaram uma série de supostas irregularidades contra o plano de saúde Prevent Senior, afirmou em entrevista ao DCM que a sociedade foi vítima de fake news da operadora.
“A Prevent Senior costuma dizer que é vítima de fake news, mas a verdadeira vítima é a sociedade”, disse ela. “Em um lapso temporal de 12 dias foram receitados mais de 400 kits covid. Eram 636 cobaias de um estudo feito sem autorização, que eles negam hoje em dia”.
Bruna Morato também comentou o índice de mortalidade da operadora. Dados da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo obtidos pela CPI da Prevent Senior, na Câmara Municipal, indicam que cerca de 40% dos pacientes internados com casos graves de Covid-19 na rede do plano de saúde em 2020 morreram.
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Segundo os dados em poder da CPI, em 2020, a Prevent Senior notificou 7.705 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, dos quais 5.431 eram por Covid-19. Destes, 2.210 resultaram em óbitos, uma taxa de mortalidade de aproximadamente 40%.
Em depoimento à CPI da Covid, o diretor-executivo da operadora, Pedro Batista, disse que o número era menor. Segundo ele, foram 22% dos pacientes em estado grave com coronavírus que faleceram.
Até 8 de outubro deste ano, a operadora notificou 7.342 casos de Covid-19 e 2.582 mortes. Em 2021, o índice de mortalidade caiu para 35,16%.
Além de ser investigada nas CPIs do Senado e na Câmara Municipal de São Paulo, a advogada afirma que outras frentes de investigação estão sendo formadas. “Há apurações preliminares no DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil de São Paulo, Ministério Público Estadual, Ministério Público do Trabalho, Sindicato dos Médicos de São Paulo e a Assembléia Legislativa de São Paulo estuda instaurar outra CPI”.
Bruno Morato conta que demorou cerca de um ano para acreditar nas primeiras denúncias que recebeu sobre a Prevent Senior. “Os médicos diziam que havia uma experiência sendo conduzida no hospital, mas eles não tinham consciência do tamanho. Eles tinham apenas uma noção de como funcionava o esquema de teste dos medicamentos do tratamento precoce.”
“Em todas as reuniões, em todos os momentos, era reafirmado para os médicos que estava tudo certo na ANS, que o Conselho Federal de Medicina estava ciente e concordava com o protocolo de testagem”, afirma. Ela completa dizendo que os números que vinham da diretoria eram sempre positivos.
A advogada declara que os médicos que ela representa tinham três pedidos à Prevent Senior e que um acordo que não envolvia valores foi proposto à operadora. “Os médicos queriam que o plano de saúde assumisse que o estudo com o kit covid era inconclusivo; que reconhecesse que havia um protocolo a ser seguido pelos médicos e que se tratava de um plano institucional e que em caso de processo que a Prevent Senior se responsabiliza pelos testes”. A advogada lembra que um acordo nunca foi viabilizado e ela acredita que o motivo é que a operadora sempre acreditou que não seria punida.
Tratamento paliativo
Bruna lembra que ficou surpresa quando soube que pacientes eram encaminhados para o tratamento paliativo somente com a intenção de gerenciar leitos. “Na Prevent Senior os pacientes eram enviados para o tratamento paliativo mesmo com chances de recuperação”. Ela afirma que tem recebido contato de vários familiares de pacientes da Prevent Senior que passaram para o paliativismo e morreram. “Era informado que não havia mais chances”, diz. Segundo ela, na maioria das vezes era esse processo servia apenas para diminuir o tempo de internação na UTI.