Por Moisés Mendes
A tentação da adivinhação sempre contaminou boa parte do material jornalístico que se apresenta como análise política. As adivinhações proliferam em momentos graves, porque também é com esses ingredientes que se faz o jornalismo.
Adivinhadores alarmistas são os que mais apostam na mega sena da história imediata. Se acertarem, podem se consagrar. Se errarem, todo mundo esquece, até a próxima adivinhação.
Hoje, muitos adivinhadores pedem que todos olhem para cima, com a certeza de que o cometa do golpe ainda não passou e de que um meteoro auxiliar, o do caos com ou sem golpe, se aproxima do Brasil.
Entre as adivinhações que circulam há essas que se repetem, com algumas variações, considerando inclusive a situação americana e no que essa pode nos influenciar:
Trump voltará ao poder nos Estados Unidos na próxima eleição, porque Joe Biden é mole, mas antes irá interferir de forma pesada e decisiva na eleição no Brasil.
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Bolsonaro pode ser o Trump brasileiro, no sentido de que não mais seria uma gambiarra, mas aglutinaria direita e extrema direita com alguma fidelidade e consistência em 2022, e por isso o segundo turno teria desfecho imprevisível.
Bolsonaro vai esculhambar com a apuração (e antes esculhamba com a eleição, se sentir que vai perder) e então teremos o caos, com muitos dias de tensão e violência, até a chinelagem, e apenas a chinelagem, acabar presa.
Se Bolsonaro perder, um homem com um berrante, cercado de gente cantando hinos sertanejos, vai invadir o Congresso, imitando Jacob Chansley, o sujeito com guampas que invadiu o Capitólio há um ano.
São previsões, não são bobagens ao vento. Ninguém imaginava que um homem com guampas poderia liderar a invasão do Congresso da maior democracia do mundo.
O imponderável orienta as adivinhações, porque nada mais será impossível, nem para americanos e muito menos para brasileiros.
O homem das guampas desafiou a soberba americana porque a democracia deles foi traída pelo autoengano de que era inabalável.
Os americanos subestimaram a própria vocação para o grotesco em todas as áreas, e um doente mental virou protagonista da invasão porque ele e as aberrações que estavam ao seu lado eram invisíveis até para os democratas.
O equivalente aqui seria o jipe com o cabo e o soldado de Eduardo Bolsonaro. Mas o próprio Bolsonaro pai já é, eleito pelo voto, com mandato e com a proteção do centrão, dos militares e dos milicianos, o nosso homem das guampas.
Somos governados por um invasor legitimado pelo voto e com toda a família, também eleita, participando da invasão, sem que nada de efetivo e consequente possa contê-los antes da eleição.
Nesse ambiente, a melhor adivinhação será a que contribuir como alerta, para que a coisa adivinhada para o futuro de curto prazo acabe não acontecendo.
O caos, se de fato existir, será muito mais resultado da nossa indiferença diante das ameaças dos homens com e sem guampas, jipes e cabos do que da capacidade de ação política da extrema direita.
(Texto originalmente publicado em JORNALISTAS PELA DEMOCRACIA)
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