A Polícia Rodoviária Federal (PRF) pediu a demissão do policial Ronaldo Bandeira, servidor da corporação em Santa Catarina que ensinou alunos de um cursinho a fazer uma “câmara de gás” em viatura. Foi aberto um processo administrativo disciplinar (PAD) contra o agente e, após o resultado, a solicitação foi feita à pasta.
O método ensinado por Bandeira é o mesmo usado no caso de Genivaldo Santos, morto por agentes da PRF enquanto estava preso em uma viatura cheia de gás lacrimogêneo em 2022.
No vídeo que gerou repercussão nas redes sociais, Bandeira explica como torturar uma pessoa detida com o método e ainda dá risada ao detalhar um episódio. “Ele tentou quebrar o vidro da viatura com chutes. O que o polícia faz? Abre um pouquinho, pega o spray de pimenta e taca”.
“Foda-se, caralho, é bom pra caralho. A pessoa fica mansinha. Aí daqui a pouco eu só escutei assim: ‘Eu vou morrer, eu vou morrer’. Aí eu fiquei com pena, abri e falei: ‘Tortura!’. E fechei de novo”, prossegue. Veja o vídeo:
A corregedoria da PRF afirmou que uma vítima foi localizada e confirmou o episódio descrito por ele. No documento enviado ao Ministério da Justiça, a corporação pede a demissão do policial com base no episódio e no relato feito em sala de aula.
“O servidor se comportou de maneira tosca, ímproba, rude, desonesta e, arriscaria dizer, maléfica, ao fazer piadas com seu comportamento lesivo, deixando claro para seu público que ele, enquanto Policial Rodoviário Federal, não considera a cidadania e a dignidade da pessoal humana como fundamentos da República”, diz a corregedoria.
O documento enviado à pasta ainda diz que ele fez uma “verdadeira chacota de situação delinquente, se regozijando com um ser humano temendo pela própria vida em suas mãos”. “Tal comportamento demonstra total desprezo aos fundamentos humanitários, estatais e jurídicos, devendo ser considerado como conduta de extrema gravidade”, prossegue.
Em relato à PRF, a vítima afirmou que foi agredida e torturada por Bandeira e colegas dele durante uma abordagem. Ela foi detida por embriaguez ao volante e desacato, e contou que os agentes usaram spray de pimenta no episódio.
O homem agredido por eles também contou que um dos agentes usou um taser, arma de choque, e que ouviu barulhos de disparos de arma de fogo ao tentar fugir da abordagem.
“Quando eles me pegaram, me botaram dentro da viatura e nesta espirraram várias vezes o spray de pimenta, e eu lá dentro trancado. Quem espirrou o gás pimenta foi o mesmo que começou a agressão, é um ‘entroncadinho’, baixinho”, contou.
A vítima diz que o delegado responsável pelo caso decidiu não prendê-lo, mas os policiais decidiram levá-lo para outra cidade ao invés de liberá-lo. “Foi uma tortura só, eles me judiaram muito na estrada”, prossegue o relato.
“Eu sei que primeiro foi o spray de pimenta e fecharam o tampão. Eu quase morri lá dentro, cheguei quase morto em Navegantes. Eu fiquei o dia inteiro, desde a hora que eles me prenderam até as cinco horas da tarde, sem beber um copo de água, sem colocar nada na boca”, diz a vítima.
A defesa de Bandeira diz que vai recorrer da decisão da corregedoria e diz que a conclusão do órgão “tem vários erros formais e materiais e em alguns aspectos é abusiva”. Segundo seus advogados, ele está “sofrendo com uma ação descabida, desproporcional e sem justa causa alguma”.
O trecho em que ensina o método de tortura faz parte de aula de curso da AlfaCon, escola preparatória para aspirantes a policiais militares e federais. Quando o vídeo viralizou, em 2022, a assessoria da instituição alegou que a declaração estava “fora de contexto”.