Estranha entrevista publicada hoje na Folha em que o procurador Edilson Mougenot Bonfim defende Sergio Moro e a Lava Jato.
Ele é apresentado como professor de direito penal, além de integrante do Ministério Público.
O procurador diz que as mensagens vazadas para o Intercept e publicadas em diversos veículos, inclusive na Folha de S. Paulo, não devem ser periciadas.
“Você confere legitimidade ao próprio crime e dá um recado à sociedade: pode-se invadir celulares”, disse.
Mougenot Bonfim tem experiência e currículo para ter a sua opinião publicada em qualquer veículo de comunicação, mas neste caso ela não é isenta
E a Folha de S. Paulo faria bem a seus leitores se lembrasse que o procurador é citado nas conversas de Deltan Dallagnol com Sergio Moro.
Em 2017, o coordenador da força-tarefa e o então juiz conversaram, via Telegrann, sobre um convite de Mougenot Bonfim para palestras remuneradas na organização criada e mantida por ele, a Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais.
“Caro, o Edilson Mougenot [fundador da Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais] vai te convidar nesta semana pra um curso interessante em agosto. Eles pagam para o palestrante 3 mil”, disse Deltan a Moro.
“Pedi 5 mil reais para dar aulas lá ou palestra, porque assim compenso um pouco o tempo que a família perde (esses valores menores recebo pra mim… é diferente das palestras pra grandes eventos que pagam cachê alto, caso em que estava doando e agora estou reservando contratualmente para custos decorrentes da Lava Jato ou destinação a entidades anticorrupção – explico melhor depois)…”, emendou.
Dallagnol ainda disse a Moro:
“Achei bom te deixar saber para caso queira pedir algo mais, se achar que é o caso (Vc poderia pedir bem mais se quisesse, evidentemente, e aposto que pagam)”.
A princípio, Moro disse que já estava com a agenda cheia, mas posteriormente aceitou o convite e participou com Deltan, em 26 de agosto de 2017, do 1º Congresso Brasileiro da Escola de Altos Estudos Criminais em São Paulo.
A entrevista de Mougenot Bonfim à Folha pode ser vista como um movimento para influenciar a opinião pública.
O que não se informa é que, por trás de declarações de apoio, supostamente embasadas em critérios técnico, há uma rede de interesses.
Esta não foi a primeira vez que o procurador do Ministério Público de São Paulo conseguiu espaço nobre na Folha de S. Paulo para atacar o vazamento de informações que são de interesse público.
No dia 3 de julho, publicou o artigo “O parto de uma calúnia”.
Pouco depois, deu entrevista à Gazeta do Paraná para dizer que “as decisões do juiz Sergio Moro são belas decisões”.
O que se sabe agora, com o vazamento ao Intercept publicado na Folha, é que o prestígio alimentado por pessoas como Edilson Mougenot Bonfim também serve para alavancar o negócio de palestras.
A fala de Moro ou Dallagnol só teve valor pela visibilidade proporcionada pelos casos em que atuaram como servidores públicos.
Quem pagaria entre R$ 850 (ex-alunos) ou R$ 940 (novos participantes) para ouvir um desconhecido — ainda que bem preparado tecnicamente —, falar?
Este foi o preço cobrado pela Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais no evento em que os dois eram as estrelas.
Dallagnol sabia que a Lava Jato lhe proporcionaria ganhos extras, como disse à esposa em uma conversa vazada:
“Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”.
Pelos cálculos dele próprio, no ano passado faturou 400k (R$ 400 mil), mais do que recebe na Procuradoria da República.
É um bom dinheiro, num mercado em que Mougenot Bonfim atua.