A Globo achou por bem lançar, neste ano de eleição, “O Caso Celso Daniel” em sua plataforma de streaming. Timing é tudo, já pregava o pessoal da Lava Jato.
A minissérie é sobre o assassinato do ex-prefeito petista de Santo André, que completou 20 anos em janeiro, mas você precisa ser um inocente útil ou mal intencionado para crer no gancho da efeméride.
O modelo é o do “true crime”, que faz muito sucesso na Netflix. Daniel foi morto aos 50 anos após ser sequestrado e há um esgoto caudaloso de teorias conspiratórias culpando Lula e o PT pelo crime.
Os bolsonaristas e lavajatistas estão alvoroçados. A mídia tradicional já começa a se mexer. No Uol, Tales Faria entrevistou Bruno Daniel, irmão de Celso, e logo perguntou sobre o envolvimento de “dirigentes do PT”. Bruno afirmou que nunca fez essa acusação.
O delegado Marcos Carneiro Lima, que esteve no centro da investigação, falou ao DCM em 2016 que a conclusão é de que “foi crime comum, mas os radicais insistem nas teorias da conspiração”.
“Toda vez que este assunto retorna é para desviar a atenção de algo presente e relevante”, observou. “Sempre no período eleitoral”.
A ideia não é ajudar a elucidar nada, mas jogar água no moinho da especulação. Inacreditavelmente, há a participação dos petistas José Dirceu, Gilberto Carvalho e Eduardo Suplicy. Para quê? Para dar o lustro de imparcialidade, de que os produtores ouviram “todos os lados”.
A produtora Joana Henning revela que tentou também um depoimento de Lula, mas esbarrou na “infelicidade” do período pré-eleitoral misturado com a pandemia.
“No momento que iríamos de fato gravar, ele estava em turnê na Europa”, conta. Na verdade, Lula não é idiota de emprestar voz e cara a algo cuja intenção, segundo a própria Joana, é “abrir a caixa de pandora”.
Joana é dona do Estúdio Escarlate. O sócio dela era o ex-ministro da Cultura no governo Temer Sérgio Sá Leitão, atual secretário de João Doria.
Leitão ficou famoso não por algum projeto na área, mas pela truculência antipetista. Bateu boca com Roger Waters quando o cantor veio ao Brasil e denunciou Bolsonaro. Sá Leitão, conhecido como Maletão, defendeu o então candidato da extrema-direita. Recentemente, contratou a própria namorada por R$ 90 mil.
Joana é casada com Pedro Parente, ex-ministro do Planejamento no governo FHC e presidente da Petrobras na administração Michel Temer. São as quartas núpcias dele.
O casal esteve no prêmio “Person of the Year”, concedido em Nova York em 2018 ao então juiz Sergio Moro.
Chamado de “herói nacional” por Doria, organizador do rapapé, Moro foi recebido com tapete vermelho no hotel Pierre, em frente ao Central Park.
“Não me arrependo nem um minuto de aceitar esses convites”, disse o chefe da Lava Jato em meio a banqueiros, atrizes globais, socialites. Fez um agrado a Parente: “Estudei tanto sobre óleo e gás, por causa da Petrobras, até pensei em largar a magistratura e me empregar na área”.
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A Veja publicou, há cinco anos, uma matéria intitulada “Um cadáver na Operação Lava Jato”. Relatava a “reportagem”: “Com dinheiro sujo, o PT comprou o silêncio de um empresário que ameaçava dar informações sobre o suposto envolvimento de Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho no assassinato de Celso Daniel. A Polícia Federal prendeu esse empresário”.
A realidade não colaborou com a tese. Quem sabe a ficção resolve, com a ajuda de Joana Hening, da Globo e dos próprios acusados.
Trailer do documentário O Caso Celso Daniel. A produção faz parte do catálogo do Globoplay
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