Professor americano desmonta falácia do ‘milagre econômico’ do Chile sob Pinochet. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 15 de dezembro de 2018 às 19:56
Eduardo com o pinochetista raiz José Antonio Katz no Chile

Em mais uma de suas perambulações em nome do pai, Eduardo Bolsonaro passeou no Chile com o objetivo declarado de conhecer o sistema previdenciário.

Encontrou-se com membros do governo e outras lideranças direitistas.

“Chegou a vez de o Brasil ter os seus ‘Chicago boys’ comandando a economia. O Brasil é tão abençoado que por vezes nem precisa desenvolver ou criar uma nova política, com risco de falhar, basta copiar as que já dão certo no exterior”, escreveu no Twitter, onde mora.

Relata o Globo:

Após ser questionado sobre como o governo conseguiria adotar a reforma, uma vez que o Chile o fez durante a ditadura de Augusto Pinochet, Eduardo disse que fatores como “um grande apoio popular, uma eleição que foi uma tsunami, uma comunicação direta com as pessoas nas ruas e a melhor equipe econômica de todos os tempos” devem garantir apoio. (…)

Primeiro país do mundo a privatizar a Previdência, ainda na década de 1980, o Chile adotou um modelo no qual cada trabalhador cuida de sua própria poupança, depositada em uma conta individual, em vez de ir para um fundo coletivo. A administração do dinheiro é feita por empresas privadas, que podem investir no mercado financeiro, o que estimula o crédito, investimentos e emprego. (…)

Apesar disso, o modelo é atualmente tido como insustentável até pelo governo de Sebastián Piñera, de direita.

Pinochet

Eduardo sentou com o ex-candidato presidencial ultradireitista José Antonio Kast, defensor do pinochetismo que já declarou que, se eleito, concederia indulto a militares condenados à prisão perpétua por crimes contra a Humanidade (o Chile não dá mole para seus assassinos fardados).

Alma gêmea de Jair Bolsonaro, Kast já afirmou que o governo se curvava “diante de uma ditadura gay”, entre outras idiotices do gênero.

Segundo o jornal La Tercera, Eduardo levantou a bola de Paulo Guedes, a quem apresentou como “um dos Chicago Boys, que vocês tiveram a sorte de ter nos anos 1980. Por isso o Chile está hoje tão bem financeiramente”.

O fetiche bolsonarista com Augusto Pinochet vem de longa data.

“Ele fez o que tinha de ser feito”, defende Jair.

A conversa é que o tirano estuprou a democracia, torturou e executou, mas promoveu o “milagre econômico” chileno.

Balela.

Recentemente, Noah Smith, colunista da Bloomberg e professor de finanças da Stony Brook University, de Nova York, desmistificou essa falácia (Smith, aliás, é liberal).

Publicou nas redes um gráfico mostrando que o crescimento anual do PIB real per capita sob Pinochet (1973-1990) foi de 1,6%. Nos 17 após a ditadura, a taxa foi de 4,36%.

“Pinochet é muito superestimado”, aponta. “Esse foi o reinado glorioso do déspota esclarecido? Por favor”.

O pibinho sob Pinochet

Smith explica que Pinochet “deixou entrar dinheiro quente para impulsionar uma bolha imobiliária que estourou”.

Dinheiro quente (hot money) é uma operação bancária de empréstimo a curtíssimo prazo que visa atender às necessidades imediatas de caixa.

O nome sugestivo decorre do fato de que a grana nem terá tempo de esfriar nas mãos do tomador.

Pinochet fez o que todo líder autoritário faz quando “procura crescer num curto prazo para encobrir a impopularidade pela repressão”, prosseguiu.

“Na verdade, o despotismo ao estilo de Pinochet não fará você rico. Não experimente”.

Dudu prefere encher o tanque de sua indigência intelectual no Posto Ipiranga.