Na tarde desta quarta-feira um grupo de professores, mães e pais de alunos e representantes de movimentos sociais esteve em frente ao edifício da prefeitura de São Paulo em protesto contra o racionamento da merenda nas escolas públicas municipais. Estavam todos indignados tanto com a medida como com o modus operandi nefasto de marcar as crianças que já tenham pegado a refeição uma vez no intuito de que não repitam o prato.
Mas de que adianta ir reclamar com o prefeito paulista? Ele nunca está. João Doria estava no Espírito Santo. Ele que nunca havia sequer visitado Vila Velha, foi receber o título de ‘Cidadão Vilavelhense’.
O tema merenda fala fundo aos corações e estômagos da população menos favorecida. Com uma taxa de desemprego nos patamares atuais, muitos estudantes dependem da escola para fazerem as únicas refeições do dia. Doria, cujos filhos nunca passaram por algo semelhante, não sabe o que é isso e mesmo com toda a repercussão que o caso ganhou, ele não responde nem deixa que respondam.
Na véspera da manifestação, o DCM entrou em contato com a prefeitura para que explicassem de quem tinha partido a ideia, se aquilo estava previsto por contrato, se a prefeitura conhecia o histórico da fornecedora (a Comercial Milano) e seu envolvimento com o propinoduto de Sergio Cabral no Rio de Janeiro. Ninguém respondeu.
Naquele dia, com alguma boa-vontade, pode-se até dar um desconto. A prefeitura devia estar bastante ocupada com o pedido de demissão em massa ocorrido na Secretaria do Meio Ambiente. Nada menos que 5 dos 7 membros demitiram-se do órgão em protesto contra a demissão do secretário Gilberto Natalini que vinha trabalhando, digamos, pelo meio ambiente.
Com relação à merenda, ninguém ainda teve a cabeça cortada, até porque o prefeito é o primeiro a concordar com o ‘racionamento’. No início deste mês, quando a orientação de proibição de repetir a merenda veio à tona, ele alegou que estava preocupado com a obesidade infantil.
A professora de história Marcella Campos foi quem fez a denúncia inicial sobre o que estava ocorrendo. Ela percorreu várias escolas em busca de informações.
“A situação é variada. Em algumas escolas o racionamento está escancarado, em outras houve um recuo da direção após a repercussão. Nas periferias o racionamento é maior, nas escolas mais centrais, e portanto mais expostas, é menor. Houve também um assédio moral com os professores, para que não denunciassem. Abordei alguns professores e funcionários e eles preferiram não conversar, visivelmente preocupados com represálias. Enquanto isso os pais me confirmavam a existência da proibição”, declarou ela ao DCM.
De fato, os professores das escolas municipais parecem estar assustados. O número de professores presentes no protesto que pertenciam a escolas estaduais era maior. A presença se justifica. Alckmin vem degradando as escolas há mais tempo que seu pupilo.
“É bem verdade que as escolas do Estado estão em pior condição, estão totalmente abandonadas, mas se deixarmos Doria ainda vai igualar isso”, disse Marcella.
Mas quem deu a ordem afinal? E qual é a ordem? Cada escola está fazendo de um jeito.
“Quando recebi a denúncia feita por uma outra professora, pedi a ela que fotografasse o comunicado oficial. Ele sumiu. Então o que passou a ocorrer foram reuniões em algumas escolas para a direção comunicar aos pais a nova regra, verbalmente”, esclareceu a professora.
O vereador Toninho Vespoli (PSOL) também falou ao DCM:
“Quem é da Educação sabe, ou deveria saber, que a criança precisa estar bem alimentada para poder desenvolver todo o processo cognitivo. O PSDB, que está tanto no governo como na prefeitura, corta em áreas que depois irão demandar mais investimentos em segurança, por exemplo.”
A dobradinha Alckmin/Doria tornou São Paulo pior?
“Eu diria que é mais que uma dobradinha, é uma tríade pois começa com o presidente golpista Temer. E Alkmin e Doria são representantes do governo federal aqui em São Paulo. O PSDB tem 4 ministros no governo e nós estamos vendo inúmeros retrocessos para a população, para os trabalhadores, para os estudantes”, afirmou Vespoli.
A Comercial Milano tem um histórico e tanto de problemas com o fornecimento de merendas escolares. O TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) desqualificou-a como prestadora já no ano de 2008.
Por fraude, declarada ‘inidonea’. Pouco depois, distribuiu nada menos que 400 toneladas de leite em pó ‘impróprio para consumo’, segundo um laudo da própria Secretaria Municipal de Educação. O laudo apontava que o produto estava contaminado por um bacilo que ocasiona diarreia. Havia ainda ‘fragmentos de insetos, soro de leite em excesso e proteína e caseína de menos’.
A Milano foi um dos dutos de abastecimento de propina para Sergio Cabral. Marco Antônio de Luca, um dos sócios e um dos integrantes do já famoso jantar em Paris com a turma de Cabral e seus guardanapos na cabeça que tiravam onda com o pobre contribuinte brasileiro, repassou R$ 12,5 milhões ao ex-governador carioca. Nas planilhas do esquema com Cabral, Luca tem o apelido de ‘Loucco’. Ele agora é indiciado por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Por que a Milano continua distribuindo merenda é uma pergunta que a gestão Doria não responde. Com a homenagem que foi-lhe conferida nesta tarde – a quinta em um intervalo de 15 dias – ou seja a cada 3 dias o prefeito está em alguma cidade de algum Estado em campanha presidencial. Já há quem diga que para ter o prefeito na capital por pelo menos um dia, será necessário prometer o título de cidadão paulistano. Daí ele vem.