Publicado originalmente na Rede Brasil Atual:
Por Rodrigo Gomes
Professores e outros trabalhadores da educação rechaçam a proposta de volta às aulas do governador paulista, João Doria (PSDB), que pretende anunciar um calendário para a retomada na próxima quarta-feira (24). “No dia 24 de junho, o secretário da Educação, Rossieli Soares, anunciará quando as aulas poderão voltar, em que nível (se referindo ao Plano São Paulo, que coordena a flexibilização da quarentena), em que momento e com quais protocolos”, disse o governador. Para os educadores, a política de combate à pandemia de coronavírus de Doria não inspira nenhuma confiança para a retomada das atividades escolares.
“São urgentes a mobilização e a manifestação para impedir o retorno às aulas presenciais nas escolas públicas e privadas de São Paulo. Funda-se nossa posição na convicção de que a conduta do governo do estado e da esmagadora maioria das prefeituras municipais, neste momento, não inspira nenhuma confiança. Não há qualquer expectativa que eventuais medidas dirigidas a promover a volta às aulas estejam amparadas por orientações emanadas das autoridades sanitárias e validadas em conhecimento científico”, diz um grupo de lideranças sindicais, encabeçadas pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
As entidades destacam a marca de 50 mil mortes causadas pela covid-19, atingida no Brasil na última sexta-feira (20), como clara demonstração de que a situação não está controlada. “É de uma inaceitável irresponsabilidade e precipitação debater a voltas às aulas presenciais. Defendemos que qualquer decisão nesse sentido seja validada em conformidade com os protocolos científicos aceitos internacionalmente. Enquanto isso não acontece, é preciso cuidar das famílias”, defendem os professores, reivindicando garantia trabalhista de home office para mulheres com filhos ou auxílio financeiro adequado.
Esse é o terceiro anúncio de uma proposta de volta às aulas feito por Doria. Inicialmente, o governador indicou a retomadas das atividades, com poucos alunos e revezamento, para a segunda quinzena de julho. Depois disse que havia uma proposta de reinício em agosto. Agora é esperado um novo anúncio. Mas, segundo o próprio governador, não deve apresentar uma data em curtíssimo prazo.
Ainda assim, os educadores apontam uma série de dificuldades para a retomada das atividades escolares. Situações cotidianas, como transporte escolar, merenda escolar, atividades físicas, higienização dos espaços, cuidados com as crianças pequenas, entre outros, vão exigir protocolos rígidos e de difícil implementação.
O jornal El País publica, nesta segunda-feira (22), um estudo da Universidade de Granada, na Espanha, que demonstra que colocar 20 crianças numa sala de aula vai acarretar em 808 contatos cruzados em apenas dois dias. Isso se a criança se relacionar apenas com os colegas de classe e não tiver contatos fora de casa. Uma única pessoa contaminada nesse meio, portanto, tem um potencial de transmissão gravíssimo.
Contra a volta às aulas
Embora o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), ainda não tenha falado sobre volta às aulas na capital paulista, os professores municipais também estão mobilizados contra uma eventual retomada. “É importante deixar claro que nenhum retorno às escolas pode ser pensado sem considerar o aumento do número de casos de covid-19 na capital paulista. Hoje é impossível retomar as atividades presenciais escolares, pois neste momento não temos segurança sanitária”, afirmou o vereador e presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), Claudio Fonseca.
No município do Rio de janeiro, professores e vereadores também se organizam contra a volta às aulas, que consideram uma decisão “irresponsável e fora da realidade”. Entre outros problemas, eles apontam o aumento na circulação de pessoas, grande parte utilizando o transporte coletivo, a subnotificação de casos e a falta de estrutura nas escolas, em ofício encaminhado à secretária de Educação, Talma Romero Suane.
“Não há previsão de compra de materiais para higienização, nem de equipamentos para proteção de alunos e profissionais de educação. E nem mesmo de um plano de distanciamento consolidado que diminua a quantidade de estudantes por sala de aula e profissionais suficientes para que isso se concretize. Para que o retorno seja seguro é preciso achatar a curva, aguardar a diminuição diária do número de adoecidos e de óbitos, melhorar as condições de atendimento na saúde, estabelecer um protocolo seguro e adotar as medidas necessárias para evitar o contágio”, defendem.