O Ministério Público de São Paulo designou na quarta-feira (14) o promotor Thomas Mohyico Yabiki, do 3º Tribunal do Júri, para o caso dos policiais militares que executaram dois jovens negros em Santo Amaro no último dia 9 de junho.
Na mesma data, também ocorreu a prisão preventiva do terceiro policial envolvido na operação.
Ouvido pela reportagem do DCM, o advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos humanos e segurança pública pela PUC- SP e membro do grupo Tortura Nunca Mais, diz que há “desconfiança” na atuação do indicado em razão de seu histórico.
“Esse caso anterior gera desconfiança sobre a atuação dele”, disse Ariel.
“Mas esperamos que ele acompanhando desde o início as investigações e a produção de provas possa ter uma atuação mais combativa visando a punição dos PMs pelo fuzilamento que cometeram”, afirma.
O caso anterior ao qual refere-se o advogado é outro que envolve violência das forças de segurança pública: a morte do líder comunitário Leandro Machado, em 3/11/2003.
Dois guardas civis metropolitanos foram acusados de matar Machado após uma tentativa de entrega de um ofício na base da Guarda Municipal de seu bairro, a Capela do Socorro, pedindo apoio para a realização de uma festa de rua, evento do qual era um dos organizadores.
O promotor requisitou no processo a apresentação desse documento, que está desaparecido desde a morte de Leandro, e tal ato foi visto como uma manobra para beneficiar os policiais.
Conforme noticiado pela Ponte, em reportagem de 24/08/2018, o advogado Geraldo Magela Tardelli, diretor da Comissão Justiça e Paz da arquidiocese de São Paulo, criticou a atitude do promotor: “A prova que o promotor pediu é absolutamente desnecessária. Ele está usando isso como pretexto para pedir absolvição dos guardas”. Pela mesma matéria, ele teria considerado a possibilidade de pedir a absolvição dos dois guardas pela fragilidade das provas contra ambos.
Quem eram as vítimas?
De acordo com depoimentos prestados por familiares dos dois jovens mortos à ouvidoria da polícia ao qual o DCM teve acesso, Felipe Barbosa da Silva, de 23 anos, trabalhava com entregas por aplicativo e não tinha nenhum histórico conhecido de envolvimento com a criminalidade.
Vinícius Alves Procópio, de 19 anos, trabalhava com seu pai no ramo de transporte escolar, atividade frontalmente afetada pela pandemia de Covid-19 e estava sem emprego. Sua família também alegou desconhecer qualquer ligação dele com atividades criminosas.
Em ambos os casos, as famílias negam que eles tivessem armas. Nenhum deles tinha antecedentes criminais.
“Moiô, moiô, eles vão matar a gente”
Momentos antes de sua morte, já durante a perseguição antecedeu o acidente que facilitou a captura de ambos, Felipe ligou para sua esposa dizendo que amava a ela e a sua filha, de um ano e, prevendo o desfecho, disse “Moiô, moiô, eles vão matar a gente”, já pedindo para que a família de Vinícius fosse avisada.