O jornal O Estado de S. Paulo publica uma reportagem nesta quinta (1) afirmando que “o empresário Francisco Maximiano, de 48 anos, dono da Precisa Medicamentos, costuma levar uma vida de luxo. Voos de helicóptero, passeios de lanchas e fins de semana em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, fazem parte de sua rotina”.
A Precisa é a intermediária da vacina indiana Covaxin no Brasil, que é acusada de estar em um esquema de superfaturamento envolvendo o imunizante e até testes rápidos de covid.
O Estadão chega até o sócio oculto de Maximiano, Danilo Berndt Trento. O jornal afirma o seguinte sobre Trento e os negócios do empresário:
Max [Maximiano] era adepto de passeios de barcos e, em 2017, comprou uma lancha Tec Craft de dois motores, com 24 metros de comprimento, por R$ 10 milhões (em valores da época). Pouco tempo depois, transferiu a embarcação para uma de suas 12 empresas, a 6M Participações. No ano seguinte, foi alvo de uma cobrança judicial por falta de pagamento, que terminou extinta.
Um dos sócios de Max na 6M Participações é o também empresário do setor farmacêutico Danilo Berndt Trento, que costuma acompanhá-lo nos passeios a Angra e outros destinos turísticos, como Trancoso, no litoral baiano. Em uma das viagens à Bahia, desta vez de jatinho, o empresário incluiu pedidos para serem servidos gim de marcas inglesas, licores italianos e garrafas de vinho branco e rosé. O voo regado a drinks, feito em 2018, resultou em processo judicial por não pagamento a uma empresa de táxi aéreo.
Em São Paulo, Max e o sócio chegaram a alugar uma cobertura no Campo Belo, na zona sul, de 190 metros. A parceria também foi alvo de uma ação judicial por falta de pagamento. A ação foi suspensa em abril deste ano.
Nas 12 empresas em que é sócio, Max tem parcerias com sua mulher, com dois de seus quatro filhos, seu cunhado, Trento e com Danilo Fiorini Filho – que se reuniu com Max e com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, em outubro do ano passado, em uma reunião intermediada pelo ‘amigo em comum’ Flávio Bolsonaro.
Além da relação com Flávio, a proximidade de Max com políticos é conhecida em Brasília. O dono da Precisa é amigo do empresário Ogari Pacheco, dono da indústria farmacêutica Cristália, uma das mais importantes do País. Pacheco é o suplente do senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso.
Como revelou o jornal O Globo, o empresário também foi citado em delação do vereador Alexandre Romano (PT), apontado como responsável por intermediar propina a um diretor dos Correios.
O nome de Danilo Berndt Trento associado ao empresário Maximiano foi divulgado pela primeira vez pelo Diário do Centro do Mundo em 24 de junho de 2021. Afirmamos o seguinte sobre o sócio oculto do dono da Precisa:
O empresário Danilo Berndt Trento, do Mato Grosso, tem 36 anos e um envolvimento com a indústria farmacêutica que conecta a Precisa Medicamentos a um suplente do senador Eduardo Gomes, do MDB do Tocantins.
Danilo é sócio da empresa PRIMARCIAL HOLDING E PARTICIPAÇÕES LTDA, com sede em São Paulo, com sua avó Jandira Meneguello Berndt. No mesmo endereço está a empresa PRIMARES HOLDING E PARTICIPAÇÕES – EIRELI, cujo sócio principal é o próprio Francisco Emerson Maximiano.
Os dois têm processo na Justiça juntos. Maximiano também é o principal sócio da PRECISA COMERCIALIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS LTDA em Itapevi, no interior de São Paulo. É a empresa Precisa da Covaxin e dos testes de covid com suspeita de superfaturamento e fraude.
Danilo Berndt é próximo do suplente do senador Eduardo Gomes, Ogari de Castro Pacheco, do DEM de Tocantins. Ogari é sócio-fundador da farmacêutica Cristália.
A proximidade entre os dois se mostra em um labirinto de empresas.
Danilo representou a ARJ DIAGNOSTICOS PRODUTOS HOSPITALARES LTDA-EPP na Prefeitura Municipal de Parauapebas, no Pará. A ARJ tem como sócio André Rodrigues de Oliveira, cujo email é de uma empresa chamada Medcomerce.
Chegamos então na MEDCOMERCE COMERCIAL DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS HOSPITALARES LTDA, que esteve em ofertas de medicamentos para o Estado do Tocantins no ano de 2013 e uma vez em 2014. Havia suspeitas de superfaturamento nessas datas.
Em 2013, por exemplo, a Medcomerce foi acusada com as empresas Hospfar, Sulmed e Dimaster por suspeitas de superfaturamento de preços de medicamentos e até venda de produtos com validade vencida.Uma delas, a Hopfar Indústria e Comércio de Produtos Hospitalares Ltda de Goiânia esteve no esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Essa Hopfar tem como sócio Marcelo Perillo, sobrinho do governador de Goiás Marconi Perillo do PSDB. Marcelo foi investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE-GO) como suspeito de ser um dos principais envolvidos no caso Cachoeira. Isso foi registrado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social em 21 de maio de 2013.
Também participou do esquema a Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, nome citado entre as envolvidas com a máfia do sangue, ligada ao empresário Jaisler Jabour de Alvarenga, que foi investigado pela Polícia Federal em 2004. Esses esquemas envolveram cidades como Goiânia e Cuiabá.
De acordo com o Intercept Brasil, em reportagem publicada em 2019, só em Goiás, então governado por Marconi Perillo, primo de Marcelo Reis Perillo, a Hospfar e mais duas empresas, a Milênio e Medcomerce, são acusadas de causar um rombo de mais de R$ 13 milhões à União. Essas empresas também teriam lesado o estado com venda de remédios superfaturados entre 2002 e 2006.
Entre essas empresas acusadas de formação de máfia aparece Danilo Berndt Trento, em ligações indiretas com Francisco Emerson Maximiano, o dono da Precisa Medicamentos.
Em 2009, a Operação Maranello, conjunta entre a PF e a Polícia Civil, chegou a rastrear Danilo utilizando mais de um CPF para acionar mais de um cadastro em aparelhos celulares. Operação teve 35 acusados e 13 pessoas presas nessas ações ilegais.
Segundo fontes que tiveram acesso à Polícia Federal, Maximiano e Danilo viajaram juntos até a Índia para as negociações em torno dos testes de covid e da vacina Covaxin.
Além do próprio Francisco Maximiano, Danilo Berndt Trento poderia esclarecer mais detalhes sobre essa negociação para a CPI da Covid. Poderia fazer isso mesmo sem ser um sócio direto do dono da Precisa Medicamentos.
O DCM procurou Maximiano e Trento para prestarem esclarecimentos. Para a imprensa, o sócio fundador da Precisa diz que “se mostra perplexa com a quantidade de informações inverídicas e maliciosas que estão sendo difundidas, com o único objetivo de gerar um caos político e prejudicar a vacinação da população brasileiro”. Segundo o texto, “a empresa não entrará em disputas políticas e está a disposição da CPI para esclarecer os fatos, rebater as ilações maliciosas difundidas com o objetivo de frustrar uma contratação de suma importância para todos”.
Danilo Berndt Trento não respondeu à reportagem até o momento.